quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O primeiro de tudo é a foto

Considerações sobre o processo criativo

O primeiro de tudo é a foto! Eu a utilizo como matéria prima. É dela que tiro traços, curvas, ângulos e texturas. É também dela que surgem parágrafos, vírgulas, acentos e frases.

Vejo pontos, rachuras e tracejados. Aparecem os personagens, cenas, pretextos; vilões e heróis fazem ponta em cenários nunca antes pisados. As histórias brotam  e nascem os argumentos, despontam os roteiros, eternizo emoções e fatos. A realidade e o imaginário se cruzam, mas evito os adjetivos para abrir caminho aos substantivos, ações e, ao sempre bem vindo, verbo. 


Não posso esquecer o movimento! Talvez seja o momento mais importante. Ele mostra o motivo e explica a razão! É a circunstância que precisa ser eternizada. É mágico e simples.
A inspiração antecede a foto, mas é da imagem que surge a narração.

Em meu processo, visualizo a cena e movido pelo sentimento puro da transmissão, como se tomado por uma entidade, começo a trabalhar. A mesma atenção que uma tecelã dedica ao seu tapete eu apresento em minha trama, cada passagem da agulha se compara com a tinta de minha pena.

Como descrever o meu processo criativo? Pergunta difícil. Acredito que seja algo que surge quando tentamos unir amor e ódio, técnica e estilo, só assim vejo nascerem textos dignos.

O processo criativo me acompanha o dia todo, cada cantar de pássaro ou peripécia infantil é digno de nota em meu eterno companheiro: o bloco de anotações. Nos momentos difíceis apelo, faço surgir o gravador, nele registro minhas memórias mais íntimas. Histórias secretas que perseguem o autor. Temas em busca de final e finais em busca de histórias.

O primeiro de tudo é a foto, mas tudo termina, e(m) ponto.

PS - Somente após as postagens percebi que era para fazer em post único. Desculpem o deslize....
No meu processo criativo tenho outro problema, a ansiedade.

4 comentários:

  1. Renato,
    Que maravilha seu "relato".
    A maneira como escolheu para nos contar sobre o seu processo criativo, o passo-a-passo que colocou poeticamente, a analogia entre a fotografia e a escrita, a visualização da cena como mote para suas construções, todo esse conjunto de procedimentos só pode mesmo propiciar contos e crônicas de primeira. PARABÉNS.

    Como a matéria-prima, para você, é a foto fica uma dica:
    "A Câmara Clara",Roland Barthes-é um livro belíssimo.
    forte abraço

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  2. Como te conheço bem, essa generosidade e acuidade ao expor uma idéia, soou trivial mas único.Antagonicamente novo e maduro.Gostei da eterna busca em ligar os finais que já temos a criação de uma estória e como realmente é muito difícil também fazer o caminho contrário rsrsr...achar o final pra aquelas nossas boas estórias. genial meu chapinha.

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  3. Qualquer coisa que eu diga agora pode soar redundancia. Porém uma coisa que me chamou a atenção foi..

    Algo que surge quando tentamos unir amor e ódio, tecnica e estilo.

    Os extremos, não há espaço para meio termo.

    Muito bom!!

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  4. Muito obrigado Sueli. Esse relato já é antigo, escrevi o primeiro parágrafo há cerca de um ano, mas somente agora, com o desafio, eu finalizei. Obrigado pela oportunidade.

    Grande Marquinho, companheiro de aventuras literárias e gráficas, realmente, você sabe como ninguém as dificuldades dessa criação, muitas delas contadas apenas em conversas. Registros que também fazem o caminho inverso - "O primeiro de tudo é o texto"....
    Você é um dos grandes incentivadores desse caminho. Obrigado pela importane participação em minha vida. Valeu amigo.

    Catarina realmente é um belo nome, me parece tão familiar e presente. Cabe aos opostos o compromisso da criação. Acredito que são eles, o próximo e o distante, que impulsionam o autor. Bandido / Herói, Claro / Escuro, Bem / Mau, Morte / Vida - Esses são os ingredientes que movimentam a criação literária.

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