segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Apropriar-se...Sempre!


Trecho tirado da Ilustríssima (Folha de SP de 26 de Setembro de 2010) - Caderno - Arquivo Aberto - Memórias que Viram Histórias - Um Herói Picaresco - Santos, 1954.



" Não cheguei a conhecer meu pai como aparece nesta fotografia. Difícil imaginá-lo tão novo e tão magro. Mas no pouco que ele contava de suas aventuras antifranquistas e amorosas em Barcelona, era assim que o via. A versão que me lembro percebi, difere um tanto da de minhas irmãs, não sei como será o pai delas, mas, o meu é esse um herói picaresco".



por Marinês;



Antonio Lacerda advogado, esposo de Luzia e pai de Ana Lúcia, Ana Beatriz e Ana Laura.

Fotos espalhadas pela casa.

Lembranças espalhadas nas memorias

No velório, lá estavam as quatro de luto.

Ana Lúcia e Ana Laura gêmeas de 18 anos abraçavam-se a mãe...e chorosas não a largavam em um sequer segundo.

Ana Beatriz já com seus quase 30 anos olhava para as coroas de flores e frases diferenciadas de amigos e parentes que diziam implicitamente a mesma coisa: "Força"

Que força essa o pai tinha?

Que imagem lhe ficava desse homem tão presente e ao mesmo tempo ausente demais?

pelas lágrimas e colo materno exigido pelas gêmeas...talvez, um herói pitoresco...

para ela ...quem sabe...um herói picaresco?

ausentou-se do caixão... enquanto uma lágrima salgada andava por sua face...

A única questão que fazia era de se apropriar de seus óculos escuros!

domingo, 26 de setembro de 2010

Que o saber seja adulto mas o brincar de criança


"A quem faz pão ou poema
só se muda o jeito à mão
e não o tema.

Atingira um silêncio tão de espanto
que era todo universo à sua volta
um seduzido canto.

E posto que viver me é excelente
cada vez gosto mais de menos gente.

Não sei quem manda na vida
mas a quem for eu me entrego
e o que queira me decida.

Pé firme leve dança
que o saber seja adulto
mas o brincar de criança."
Santiago Ribeiro

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Eu acho!

Eu acho.
Essa expressão é uma das poucas que eu evito usar. Evito pois abre parenteses para questionamentos, quantas vezes já ouvi "Você acha ou tem certeza?" Porém é uma expressão tão usada que escapa a qualquer momento, sem pensar muito, como simples complemento na frase. Eu prefiro "Penso que". Limita ao eu e mais ninguém.
Então me apropriei justamente do vídeo sugerido pela Su dia desses, Provocações do Antonio Abujamra com a Marcia Tiburi, quando ele discorre sobre seu temor por uma filósofa dizer "Eu Acho".


Sorriu um sorriso amarelo.
Falsear do salto.
Desconcerto do momento.
Talvez o esconder a mágoa.
Talvez camuflar a ira.
As palavras que ferem.
O orgulho.
A fé.
Confronto.
Conta ponto.
Invadida nas certezas.
Bombardeio sem trincheiras.
Ah se pudesse prever!
Ah se pudesse fugir.
Revidar não seria o conforto.
Ironia morada segura.
Na arte da filosofia.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Questão de sina

Então Su, vamos lá. A notícia é esta:
Lucienne e Raymonde, consideradas as gêmeas idênticas mais velhas do mundo pelo Luvro Guinness de Recordes, posam em Saint-Georges-de-Didonne, próximo à cidade francesa de Bordeaux. Nascidas em Paris, elas celebram 98 anos nesta quinta-feira (23). Viúvas, elas moram juntas desde que se aposentaram. Mais aqui

Minha apropriação meio sem vergonha hehehe
Imagem de Freyasson

Deu no jornal: são gêmeas idênticas.


Em uma, o reflexo da face da outra.

Dia e noite confrontadas com a própria imagem

O tempo todo, em toda parte, por pura sina.

Eu, surpresa, especulo...

Sobre notícia tão especular

Que sina a delas.

Vejo-me na face de

tantas outras...

Dia e noite confrontada com outros

pedaços inteiros de mim.

Inteiros,  inteiramente diversos.

Por vezes, até adversos.

Será que, como Castor e Polux

Eu e meus eus , enlaçados por nós

Alternamos entre o Olimpo e o Hades?

Que sina a minha.

Entre a nossa e a delas

Qual a maior solidão?

Qual a mais sem companhia?

Isto nunca escrevem no jornal....

Imprensa inútil! Que sina a nossa.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

“O POETA SE APROPRIA”


Na tentativa de responder quem faz o quê, como, quando, onde e por quê, o repórter acaba construindo uma narrativa, que não é regida pelo imaginário, mas pelos dados do cotidiano, da realidade.
A narrativa com o intuito de criar um mundo ficcional, mesmo que se valha de dados do mundo real é privilégio da literatura.

LEIA,  aqui, “Poema Tirado de uma notícia de Jornal - Manuel Bandeira”. Trata-se de uma experiência de Manuel Bandeira em que o poeta se apropria da linguagem jornalística e do aproveitamento espacial de uma página de jornal para criar o seu poema.
Observe que os “elementos” do “lead”( que informa o leitor sobre quem fez o quê, como, quando, onde e por quê) estão presentes nele:

quem: João Gostoso, carregador de feira-livre, residente no morro da Babilônia;
o quê fez: bebe, cantou, dançou, depois suicidou-se;
como:  afogando-se;
quando:  numa noite qualquer;
onde: na Lagoa Rodrigo de Freitas;
por quê:  aí reside a genialidade do poema- como as causas não estão explícitas ,como convém a um texto de natureza jornalística em que os fatos devem ser narrados com objetividade, elas estão sugeridas no contexto (suicídio como saída de uma vida miserável).

DATA DA POSTAGEM- 27/09/2010

PROPOSTA


Como Bandeira, faça a sua experiência, crie um poema a partir de uma notícia de jornal. Para isso leve em conta os “elementos” do “lead” elencados acima.
E ,claro,toda a sua genialidade!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ressurreição (única poesia que fiz para alguém em toda minha vida)

Que me seja dado abrir-me em cruz


Para os teus pecados

Para os teus agrados....

Que caibam em mim teus gestos, teu açoite, teus suspiros...

Que eu sobreviva aos meus soluços

E desvende enfim os teus segredos guardados.

E que te dê o meu descanso...

Pois se puder escolher... quero morrer cansada em ti.

(inverno de 2007, para W.M)

Um mimo pra todos.

Como disse, tenho andado por outras paragens e pouco tenho aparecido. No entanto leio sempre que recebo anúncio de novas postagens o contéudo deste blog. Eu tenho adoração por poesia e nenhum talento para escrever em verso. Quando alguma poesia consigo, ela me chega sempre em prosa. Por isto tenho livros e mais livros de versos. Entre tantos escolhi postar aqui uma foto que foram tiradas em minha casa e me dada por uma amiga muito querida, uma carioca maravilhosa que conhecí na net: Simone Del Rio. Este livro fica em cima de uma mesinha de canto, sempre com uma flor ao lado. Chama-se "A linguagem do amor" e traz versos sobre todo tipo de amor ( porque "qualquer maneira de amor vale amar, vera"). As ilustrações são belíssimas e de quebra, ele vem numa caixinha e um cheiro da rosa tibetana se desprende de suas páginas por muito tempo. Espero seja possível ler o poema que escolhi ler neste dia, um sarau literário que fizemos em casa. Foi um poema feito para Oscar Wilde. Fica como um mimo para os poetas deste espaço. Bjs a todos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sob a luz da Musa


Não foi o Mistério:
Infalível suspiro
Diante do nada
Instante da morte.

E nem foi o Tempo:
Insolúvel problema
Antes de hoje
Depois ou começo.

Também não foi Ela:
Eterno remendo
Pra todas as carnes
Desejo do beijo.

Escrito de fato,
O que me fez vário
Nem foi o Medo
O Sonho ou o Silêncio:

Mas sim a Miopia e seus planos convexos imensos.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ferida


É preciso ter coragem
Para por o dedo na ferida
Tocar sua parte mais funda
A mais dolorida
É preciso mais
Saber enxergar, querida
Aonde bate o coração
Até onde vai a vida
O tênue fio da pulsação
E muito mais ainda
É preciso ter coragem
Para pensar e secar
Esta ferida
Inda que doa mais
Que a própria vida
Ainda que seja
Para dela extrair
O âmago, o suco
A coisa mais ardida
Que inflama por dentro
E, queimando no peito
Sangra, abre-se em flor
E, florida, brota do chão
Da pele, da voz,
Do grito e no olhar
Aberta
Ferida aberta
E, no entanto encoberta
Vergonha, êxtase noturno
Medo
Amor proibido

Santiago Ribeiro