segunda-feira, 21 de novembro de 2011

De Caminhos e Imagens, o Reencontro


No caminho passou de tudo fome, frio, medo e algo que nunca tinha experimentado em toda sua vida: — tristeza. Uma dorzinha aguda que começava nas costas, se é que podemos chamar de costas, e culminava forte no coração mudando seu ritmo natural e descompassando todo seu ser. O rabo pendia e, Piloto sentia todo seu peso que quase tocava o chão. Mas nem por um momento pensou em desistir de sua busca. Há tempos que partira da velha cidadezinha abandonando aquele que tinha sido seu verdadeiro companheiro, e, agora de volta era preciso percorrer cada beco, cada praça, cada cantinho e ,quem sabe, por conta do inexplicável , esse mistério do encontro, traria ali na sua frente seu dono.

Um cansaço tomou conta do seu corpo, relembrou todo o trajeto percorrido, e das crueldades sofridas – pedradas- chutes, empurrões, mas era um cão otimista, de bem com a vida=. E a última imagem que tinha na mente era a de um sujeito que o protegeu da chuva, abaixando-se delicadamente com o guarda- chuva aberto sobre ele. Essa imagem encheu-o de coragem e mais uma vez ele acreditou na possibilidade do reencontro. Foi com esse pensamento que Piloto avistou no finalzinho da rua poeirenta seu antigo dono, sabia que era ele, sentiu seu cheiro inesquecível, reconheceu a capa preta que servia de manto pra ele nas noites que ambos saiam para passear. E com o coração em disparada e o rabo numa demonstração de alegria, no seu muito balançar, correu ao seu encontro,pois tanto um quanto o outro nunca esqueceram da arte de viver .

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Laços quebrados

Piloto... meu dono me nomeou assim pois sempre achava o caminho de volta, por mais longe que fosse, seu cheiro me encontrava onde estivesse, desde filhote fomos muito amigos.
Um belo dia olhou-me e disse que tinha que ir embora, achara um trabalho na cidade grande e aproveiraria a aportunidade, mas que não me esqueceria e voltaria para me buscar assim que pudesse.
Fiquei esperando, olhava todos os dias as pessoas descendo do ônibus na rodoviária, e nada... anos se passaram e meu dono não voltava, fiquei preocupado por algum tempo, mas ainda confiava em sua promessa!
Até que o tempo foi me fazendo lutar por mim, afinal, precisava sobreviver, comia o que conhecidos me davam, olhavam-me com pena, eu não gostava daquilo, mas tinha que me alimentar, tomava banho no rio, dormia na rua, era horrível, mas não havia outro remédio.
Bela manhã, acordei debaixo do banco da praça e então o vi! Meu dono finalmente havia voltado para a cidade, estava diferente, mas o cheiro não mudara...
Finalmente quando nos encaramos, percebi que estava melhor sem ele, aprendi a viver por mim, para as minhas coisas, enfrentar meus medos e não precisava mais dele.
Comprimentamo-nos e despedimos-nos com apenas um olhar, era tudo que nos restava, os laços estavam quebrados e sobrara apenas uma lembrança de um tempo que não voltaria mais.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

"ESPAÇO, LUGAR MÁGICO"


NARRATIVAS - O ESPAÇO
O espaço tem a função de revelar ao leitor, através das descrições (sensações + julgamentos), onde a ação (enredo) se passa. O narrador traduz em palavras adequadas aquilo que vê/sente/ouve/toca/cheira: cores, formas, cheiros, gostos, sons. Enquanto, na descrição, dá-se exatamente o contrário: o tempo é o grande privilegiado, e o espaço quase sempre um mero acessório decorativo.
Há vários tipos de espaço narrativo.
Cada um com suas peculiaridades.

Espaço decorativo: Na maior parte das narrativas o espaço serve de cenário, palco onde se desenrolam os acontecimentos...

Espaço funcional: Há narrativas, entretanto, em que o espaço determina a história, produz e modifica comportamentos...

Espaço hostil: Ambiente onde a personagem se expõe a riscos, aos azares...

Espaço afetivo: O espaço que desperta sensações “positivas” como calor, segurança, carinho...

Espaço psicológico: Nas narrativas psicológicas, em que predomina o fluxo mental, o tempo quase não é notado, a ação é retardada, o enredo se desenvolve em função dos pensamentos da personagem...
E as rosas faziam-lhe falta. Haviam deixado um lugar claro dentro dela. Tira-se de uma mesa limpa um objeto e pela marca mais limpa que ficou então se vê que ao redor havia poeira. As rosas haviam deixado um lugar sem poeira e sem sono dentro dela. No seu coração, aquela rosa que ao menos poderia ter tirado para si sem prejudicar ninguém no mundo, faltava. Como uma falta maior”
Clarice Lispector. A imitação da rosa (p. 54)
                                             

A MUDANÇA
Carlos Drummond de Andrade.
Contos plausíveis


O homem voltou à terra natal e achou tudo mudado. Até a igreja mudara de lugar. Os moradores pareciam ter trocado de nacionalidade, falavam língua incompreensível. O clima também era diferente. A custo, depois de percorrer avenidas estranhas, que se perdiam no horizonte, topou com um cachorro que também vagava, inquieto, em busca de alguma coisa. Era velhíssimo sem trato, que parou à sua frente. Os dois se reconheceram: o cão Piloto e seu dono. Ao deixar a cidade, o homem abandonara Piloto, dizendo que voltaria em breve, e nunca mais voltou. O animal, inconformado, procurava-o por toda a parte. E conservava uma identidade que talvez só os cães consigam manter, na terra mutante. Piloto farejou longamente o homem, sem abanar o rabo. O homem não se animou a acariciá-lo. Depois, o cão virou as costas e saiu sem destino. O homem pensou em chamá-lo, mas desistiu. Afinal, reconheceu que ele próprio tinha mudado, ou que talvez só ele mudara, e a cidade era a mesma, vista por olhos que tinham esquecido a arte de viver.

PROPOSTA

DATA DA POSTAGEM 21/11/2011

Mude o foco narrativo do conto “A mudança”, ou seja, relate, em vinte linhas no máximo, os fatos sob o ponto de vista da personagem Piloto. Coloque um título.