quinta-feira, 28 de julho de 2011

RECESSO

A leitora, 2005- Espanha- Carmen Varela



"Mais exercícios em algumas semanas".    


Abraços a todos,
sueli aduan

terça-feira, 19 de julho de 2011

PARCEIROS DA ALMA




Foi em uma tarde de abril, que Leo apareceu. Tendo levantado os olhos do livro para pegar uma caneta que caíra no chão avistei-o. Caminhava devagar ao meu encontro A principio pensei em ignorar, mas à medida que se aproximava levantou a mão até a altura do coração. E esse simples gesto fez com que eu largasse os livros e fosse ao seu encontro. Ele fechou os olhos e disse: “Não estou bem...”.
“Você pode ficar aqui, fique aqui comigo” – Disse a ele – enquanto apertava a sua mão.

O sol estava sumindo no horizonte. Nuvens negras apareceram do lado do poente. Estava se aproximando uma grande tempestade. Sai da sala por alguns instantes para buscar lençol e cobertor. Quando voltei ele estava mais animado. Perguntei se tinha fome. Ele disse que queria ficar apenas do meu lado, nada mais. Enquanto ele me olhava arrumei o sofá-cama da sala e ele deitou. Depois, um pouco tímida, abaixei o corpo e beijei o seu rosto. Ele segurando os meus braços pediu que ficasse ali com ele. Tirei o sapato e arrumei um lugar próximo, colocando meu rosto bem próximo do seu peito. Depois de alguns minutos levantei e abri a janela para que pudéssemos ouvir o barulho da chuva que caia fortemente. Isso trazia calma e relaxamento da tensão nervosa. Então me contou sua história, o acontecimento que fez nele uma transformação de causar arrepios... Mudança tão grande que não sabia mais se essa era a sua vida.  Não era feliz, mas agora estava começando a depositar toda a sua confiança naquela coisa que todos nos conhecemos muito bem: o amor. “Ela agora existe”, disse. Pelo menos da mesma maneira como teria existido antes. Quando ela aparecia ele tinha de estar presente para vê-la. Isso o ajudava a conservar a imagem dela como a coisa mais preciosa que possuía nesse mundo. Ela trazia alegria para seus dias e separado dela ele morria a cada instante.

Fez um relato completo das suas falhas, sua vida, seus sonhos... Contudo sem jamais chegar ao fim, mas eu fiquei sabendo pela constância com que olhava a tela do computador. Já sabia desde o momento em que o vi.

Mlailin

domingo, 17 de julho de 2011

Menino que vi







imagem Google




Nasce o dia vejo o menino apressado
Nas costas uma mochila tão pesada
Menino carrega o fardo do passado

Naquela sua aparência curvada

Finge feliz para a vida, que não tem
Em contraste com seu olhar triste.

Ignora os olhares e segue para o trem

Na janela viaja no que não existe


Ele não leva as esperanças na vida

Que perdida em mistérios e segredos
Compõem apenas uma carga fingida.


Assim desce menino, sobe homem suicida

Numa corrida desesperada entre medos
Parte desta vida nua, na bala perdida.


Toninho

terça-feira, 12 de julho de 2011

Raízes.


Presos em seus anseios, eles correm, soltos, por medo, o medo de se encontrar.
Encontrar-me, transição impensada. É como se nada se completa, antes que se quebre totalmente. Nos fere, nos destrói, sem pensar. A tristeza corroeu seus tímpanos com límpidas notas de orgulho e saudade. Liberdade. Antes fosse almejada, nos prendemos, aos mais impares desejos. Ele se sentiu passado. Ele se viu futuro. Mas não é presente. Ausente, de pensamentos e momentos. A espera da reciprocidade, infundada! Mas que diabos é isso? Só se sabe que existe. De que vale existir? Sem sentir o tempo a passar. Ele parou de divagar, lembrou-se de que a vida não é de sonhar, colocou-se a dispensar delongas emocionais, e cogitou na idéia de transcrever pequenas idéias. Mas caiu por si a sentir sua vida transcriando momentos de angustia através de papeis, seus vômitos tomando forma. Logo, se viu, inútil. Sozinho, inútil e desprezível. E mesmo assim, foi. Foi, pra onde? Não sei te dizer, mas ele foi, caminhar.
Andou, sim, andou por ai. Subiu até a esquina e correu toda a rua, a chorar, sem saber o que fazer e desesperado procurou o primeiro bar nojento que encontrasse, mas tinha que ser o mais nojento, o mais desprezível e o mais, vazio. Como ele. Mas, covarde, não teve coragem de entrar. Tímido, dos ombros arqueados, desceu a rua a olhar o céu.
Pra que existimos? Divagava a caminhar. Lembrava dos momentos que passaram, e, tropeçava a cada passo na calçada de pedras cor de barro batido. Distraído. Esbarrava em todos, e ficava, mais e mais, arqueado, fechado, recluso.
A solidão é algo terrível, mas temível mesmo, é a reclusão. Impulsivo, ele correu até o parque mais próximo, a praça mais longe ou o gramado menos verde. E se jogou. Na magnífica desolação verde das praças urbanísticas e infestadas de mendigos. Desligou seus suspiros, seus pensamentos. Ligou sua ancestralidade. Mãe terra.
Como num transe, não se mexia, nem um músculo. Parou, respirou. Respirar!
...
Respirou.
E ainda lá, sentia, o corpo-chão, universo. E sentia-se pequeno, mas, presente. Desligou-se da reciprocidade, o universo já lhe cedia isto e ele nem percebia, nunca.
Minutos passaram, horas voaram, meses chegaram. E ele ficou, findou raízes, cresceu. Preso a mãe terra. Sem pensar, sem chorar, sem se distrair com as tristezas mundanas. Em seu tronco-torso, sente, uma mão a lhe tocar. A razão de todo o seu penar, que volta, de repente, para juntar. Mas o corpo-chão, já endurecido por suas cascas, não desprende ao chão.
A mão, lhe pede só mais dois minutos. Sem sinais pra continuar, segue, direto e reto.
O rapaz e suas raízes, se tornam apenas um emaranhado de lembranças, porém isolados. Arqueados, fechados. Galhos e ombros levantados. Pernas cruzadas, sorrisos acanhados.
E ele se vê assim, alheio. Ao mundo que está tão conectado.
(Des)conectado.

domingo, 10 de julho de 2011

Não nos damos conta Quitéria

Às vezes sentimos uma tristeza dessas que não se consegue chorar, por maior que seja nosso esforço, por mais que se tente. Secamos. Nem uma lágrima brota dos nossos olhos. Parece que qualquer movimento, um único virar de rosto ou piscar de olhos, vai doer mais.É como se a gente quisesse parar tudo em volta, paralisar o tempo. Talvez seja assim mesmo e nós que não nos damos conta. Tudo pára dentro da gente. Lá no fundo do nosso ser só um vazio, um nada, um não querer.

Foi assim que vi Quitéria naquela tarde, naquela hora da tarde mais precisamente, com rosto fechado e o olhar parado.Com passos lentos veio em minha direção. Tinha os cabelos escorridos, os lábios entreabertos parecendo que queria dizer algo, um andar bambeante, quase um arrasto, uma dor sem fim.E eu fiquei ali olhando para ela, olhando através dela sem fazer nada imóvel. Por uns momentos tive a sensação que não existia. Eu não estava vivendo. Não podia mesmo falar nada, não havia nada a ser falado. Minhas dores eram outras, não tão cruas, tão puras como as dela.

Havia um silêncio pairando no ar, as poucas lojinhas da pacata cidade já estavam começando a fechar-se.
O relógio da matriz marcava 17h45min, aquele finalzinho de tarde, igual a tantas outras tarde, tornou-se a mais diferente de todas as tardes de minha vida.E ainda, hoje, passado tanto tempo quando me recordo daquela tarde, vejo que ela foi a mais marcante, a mais dolorosa de todas já vividas. E já vivi muito. Mas por mais que viva nenhum outro olhar será como o de Quitéria, nenhuma outra dor se igualará a dela. Nada nunca.

Só seu olhar continua cravado fundo em mim doendo em mim. No fundo também acho que somos nós que não nos damos conta. Tudo é sempre muito igual, os dias, o ir e vir, as horas passando, o trabalho feito. O que tem valia mesmo é a nossa emoção, é o cheirinho do café passado na hora, o cãozinho latindo ao longe, uma brisa suave a nos refrescar, tardes a conversar. Ouvir a chuva batendo assim nos telhados, escutar criança chorar. Acho que é só isso mesmo o que conta o resto é enfado, canseira, obra do tinhoso, como diz o povo daqui, como disse Quitéria. E pensando bem acho que a gente é que não se dá conta de tudo isso mesmo e o abraço morre antes da junção dos corpos e sobram palavras, palavras, palavras.

Hoje me pergunto por que não abracei Quitéria, não a acolhi em meus braços, acarinhei seus cabelos? Tudo tão simples. Acho que somos nós que não nos damos conta da simplicidade do gesto modificando a vida.Na minha memória as palavras pausadas de Quitéria quase sussurrada, um sopro, um quase gemido, um pedido de socorro: -“quem qui punho curagem pruma barbaridade dessa, uma farta di amor tão inorme, qui homê ou muiê vive despois do acontecido”

E eu ali, tentando entender, raciocinar, perplexa não derramei uma lágrima. Mas doeu. Não sei o que mais me machucou o fato ou Quitéria. Acho que os dois. Tudo. A nossa própria impotência diante do imprevisto, diante da tragédia.E foi uma tragédia.A poeira que levantou o barulho das patas no chão, o relinchar, os berros das pessoas, a agonia, o sangue no chão, o choro, tudo meio misturado assim mesmo. Não parecia real.Aquele cavalo forte desembestado, o menino pendurado, preso pelas amarras do arreio, se debatendo entre pedras e pedregulhos, os lábios já cortados, ensangüentados, a pele das pernas já corroídas. E nada parava aquele animal, era obediente a ordem dada.E ela foi dada. Corre, corre Untu. Ele correu. Nada iria fazê-lo parar conhecia a voz do dono gritando: - Corre, corre Untu. Vingança estranha essa ferir o filho pra atingir a mãe.