sexta-feira, 29 de junho de 2012

A dançarina.















Lucélia é dançarina de uma famosa companhia de balé, que faz volta ao mundo em apresentações. Nascida numa pequena cidade do interior. Era uma linda menina de olhos verdes e longos cabelos dourados, que ela cuidava com todo esmero e sempre os protegia dos raios solares, quando na lida com as ovelhas, em sua atribuição domestica.
 
Lucélia sempre sonhou ser uma artista do cinema, como as que ela via em revistas. Na escola do lugarejo ela sempre participava das atividades festivas nas apresentações teatrais. E foi assim que numa apresentação da escolinha que ela fora selecionada para uma temporada de testes numa companhia de balé. Jamais poderia imaginar que naquele dia sua vida mudaria para sempre. 

Agora longe de casa, apesar de bem sucedida é comum vê-la ao espelho ainda modelando seus cabelos. Mas em muitas vezes, ali diante do espelho ela faz uma viagem.  Sente a pressão da saudade refletida em seu lindo rosto. Em transe se vê a passear pelos campos, corre atrás de uma ovelha fujona, sente seu vestido se encher com o vento, canta e dança. Seus olhos lacrimejam quando em suas lembranças, vê a fumaça da chaminé de sua casa e até sente o cheiro bom da cozinha de sua mãe. 

O que Lucélia pensa, mas seu espelho não reflete, é a perda de toda aquela vida simples e tranquila de felicidade, que ali tão distante, com tudo aos seus pés, é o que mais lhe faz falta. Então solta e deixa os cabelos caírem livremente sobre seus ombros, esboça um leve sorriso para o espelho numa ultima olhada.
E sai lentamente para sua cama e sonha.

Toninho.
25/06/2012.

A vontade de criar é tamanha, que busco trabalhar em todas as propostas, então fica mais esta para apreciação de todos, que agradeço sempre pelo incentivo.
Grato sempre Sueli pelo espaço e sua arte em estimular a nossa criação.







quinta-feira, 28 de junho de 2012

O que fazer?











Priscila é formada na área da Ciência da Computação numa renomada universidade de São Paulo. Ela participou de um concurso altamente concorrido de uma multinacional. Ela havia estudado intensamente relegando a segundos planos todos seus momentos de lazer inclusive o namorado às vezes não comparecia à sua casa. Quando saiu o resultado, divulgado na maioria dos jornais país, ela foi avisada via celular, pelo noivo em euforia, pois fora classificada em primeiro lugar. Em casa uma festa geral entre abraços e beijos e até uma garrafa de Champanhe foi aberta para aquele momento de muita alegria.

No dia seguinte ela compareceu ao escritório da empresa para os procedimentos de admissão. Recebida com muitos parabéns e desejos de sucessos, ela fora informada, que os primeiros colocados em numero de cinco, seriam admitidos para a nova sede nos Emirados Árabes Unidos, onde iniciaria o processo de expansão na península. Priscila sente um frio na costela e o chão se abrir a sua frente, pois lhe veio lembranças da alegria do noivo e família, mas disfarçou e ouviu atentamente a palestra de um dos diretores, sobre os planos e missão da empresa nesta investida naquela península. 

Ao retornar para sua casa encontra toda família reunida e curiosa, inclusive seu noivo estava presente, vindo do seu trabalho. Em breves relatos ela fala da recepção, mas nota-se uma inquietação em seu semblante, quando ela se retira para seu quarto alegando que tomaria um banho antes da refeição especial para aquela noite regada a vinhos. Ao entrar no quarto se joga na cama e chora copiosamente e busca forças, para informar a família e namorado de seu destino na empresa. Vai para o banho e deixa que a água lave suas angustias e ali fica uma eternidade, sente todas as angustias de uma tomada de decisão.

De volta ao quarto mira-se no espelho e ali ficou como assistir um filme em câmera lenta, onde reprisa toda a alegria da família e noivo, ao tempo que ecoa em seus ouvidos a informação do local do trabalho, sente um vazio, pensa no que fazer como fazer para decidir na manha seguinte se inicia os exames adicionais ou desiste de tudo em nome da família e do amor. Desesperada questiona ao espelho e sem respostas vê a lagrima voltar a rolar pela face, sente-se só, quando alguém bate na porta lhe apressando para retornar à sala onde todos esperam. Mais uma vez olha no espelho, dá um toque nos cabelos, retoca a maquiagem, respira fundo com um leve sorriso para o espelho e decididamente abre a porta.

Toninho.
26/06/2012.

Longa jornada


Do momento em que eu, confortavelmente, me instalasse naquela poltrona as mudanças ao meu redor seriam imperceptíveis. Uma longa jornada feita de silêncios, sustos e olhares. No começo o medo me dominou. Sentia a respiração ofegante, o suor escorrendo pela testa, mas em momento algum pensei em desistir. O jeito era fechar os olhos, relaxar e assim, quem sabe, ao olhar novamente o medo tivesse se dissipado. Não importava quantas vezes isso se daria.

Tomou-me tempo aquela viagem, mas era uma questão de escolha. Não há outro jeito tive a impressão de ouvir.  E, ainda — Desejas de verdade?  Não tinha porque responder.  Apenas sorri.  Eu sabia que seria assim. Um trajeto feito de sombras de luz  e de total escuridão.E tive a nítida sensação que seria a vida toda.

O espelho que firmemente segurava entre minhas mãos trazia um esboço do meu rosto, um quase rosto. Através dos espelhos comecei a procurar-me. Eu por detrás de mim à tona dos espelhos. E aos poucos, uma imagem ia se formando. Já não era mais um quase, mas uma forma luminosa de um rosto que se sabe.



quinta-feira, 14 de junho de 2012

Personagens....

E suas ações, falas, pensamentos...

Observe atentamente as fotos
  
FOTO 1

FOTO 2

PROPOSTA
DATA DA POSTAGEM   28/06
ESCOLHA UMA DAS FOTOS 


Crie um texto "contando":
a) o que a personagem faz;
      b) o que a personagem pensa;
     c) o que a personagem sente.



sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pelas ruas da cidade.















Na noite de Natal, as ruas enfeitadas com bolas douradas em meio à predominância das cores verde e vermelha. Vejo pessoas sorrindo com embrulho de presentes outras com tabuleiros de alguma guloseima. Era clima de Natal, era alegria espalhada pela cidade. Caminhando pelas ruas estreitas e de pedras, sinto o desnível das pedras, assusta-me desnível do poder de aquisição tão presente ali na minha caminhada para o ponto de taxi mais próximo.

A noite de Natal tem esta coisa de nos amolecer o coração, é a sensibilidade que se faz mais perceptível e torna-se comum encontrar pessoas tristes, acotoveladas em balcão de bares se entregando num gole a mais, como a querer se afastar das lembranças, das saudades de entes ou pessoa amada, que já não pode receber suas lembranças, seu abraço e beijo de Feliz Natal. 

Finda minha caminhada junto à praça onde um taxista solitário espera último cliente, antes de seguir para sua casa na noite do nascimento do menino Jesus. Abro a porta e adentro ao carro, então lhe desejo Feliz Natal, que ele retribui automaticamente. Pergunta sobre meu destino, imagino que pensou ser para a região de sua casa, para fechar com chave de ouro a noite mágica. Respondo ser o hospital.

 Sem mais palavras liga seu carro, e o radio em musicas de Natal e seguimos em direção ao hospital. No trajeto vou olhando pelo vidro embaçado, as luzes piscando lentamente e dentro do taxi o meu coração molemente ancorado nas ultimas esperanças de encontrar ainda vivo o amigo vitima do transito naquela noite.

Toninho
08/06/2012

Baseado na frase de Carlos Drummond de Andrade:  
Meu coração vai molemente dentro do táxi.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Não agora




E, não é que quando cheguei tarde da noite, lá estava ela com seu ar habitual, seus belos olhos negros, enigmáticos. Abriu-me um sorriso, minha palidez acentuou-se. Sorri sem jeito. Não queria envolvê-la em minhas angústias. Não agora. E ao mesmo tempo uma necessidade visceral de segurar suas delicadas mãos, afagar os cabelos, sentir seu perfume e lentamente, num quase sussurro, dizer-lhe.

Mas escolheria as palavras com o cuidado de quem planta uma flor. De quem embala uma criança ou simplesmente olha as estrelas.  E àquela noite estava estrelada. Como um estranho olhei-a profundamente antes de começar.  Ela aproximou-se e apenas disse: — Diga-me. Foi quando percebi que não havia nada a dizer. E que as palavras, cuidadosas ou não, nada seriam frente minha perplexidade diante de um mundo caótico que criamos. Eu tinha perdido o bonde e esperança


Viagem na solidão do elevador.











Zezinho vivia a infância feliz na roça com liberdade de ser criança, apenas vigiado pelos olhos da mãe e os conselhos comuns nos anos pré- televisão nas casas simples. Ali todos se conheciam pelo nome dos pais. Ele era Zezinho de Sô Chico.  Vida cheia de brincadeiras e atividades, como cuidar do galinheiro, molhar a horta, tratar dos animais e deslizar no capinzal em folhas de coqueiro como barcos. Nos fins de semana a rotina às vezes mudava com visitas de parentes da cidade, com suas historias, mas para ele, não eram mais importantes que as suas, mas lhe aguçava a curiosidade.

Uma das coisas que mais o alucinava, eram os elevadores, que levavam as pessoas nas alturas, mais rápido do que subir nas arvores e que eles mesmos comandavam no sobe e desce até ao décimo andar onde moravam. Para Zezinho era quase impensável uma casa sobre a outra, com altura dez vezes maior que o pé de coqueiro. Este sonho ele carregava no seu embornal de curiosidades e sempre questionava a mãe, se era verdade a tal maquina de levar pessoas até as nuvens.

Na época de uma vacinação na década de 60, viajou para a casa dos parentes. O coração não cabia no peito. Depois da longa viagem já na cidade, seus olhos se maravilhavam com tudo, como carros e o bonde. Estranhou muito a pessoas sisudas sem as saudações cordiais da roça. Seu pensamento era o elevador. Ao chegar ao prédio, olhos embutiram entre alegria e medo. Segurava na barra do vestido mãe, o suor nas mãos, o coração agitado. Sua primeira viagem para as nuvens com pessoas ainda mais estranhas mudas que olhavam para o nada. Logo pensou na roça e sentiu saudade da roça cordial.

Após alguns dias de volta à roça, sentia dores no braço vacinado, que coçava como picada de formiga mijona, que sua mãe cuidava colocando uma folha lá do mato. Mas podia sentir o ar fresco pelos pulmões. Saudava os pássaros os imitando, ouviu latido de Capitão brincando com o porco Totó e sentiu o gato Xadrez lhe roçando as pernas. Seus olhos brilharam e uma lagrima rolou de felicidade. Mas a mãe percebeu nos dias seguintes, que ele ficava parado, olhando para o alto do coqueiro, como se visse ou procurasse algum bicho  e  logo foi saber:

- O qui ocê tanto óia no arto do coqueiro Zezinho?
_ Né nadica não mãe, é que eu tava pensano no elevador cá na roça, mas quando nós tava lá no elevador pensava na roça cá. Só isso mãe.

Toninho.
04/06/12

Baseado na frase de Carlos Drummond de Andrade:
No elevador penso na roça, na roça penso no elevador.



terça-feira, 5 de junho de 2012

Piruó

Quando eu tinha quatro anos de idade, meu tio João, a quem todos chamavam de Zinho, convidou-me para fazermos uma viagem de trem até Iperó, á época, uma viagem belíssima, apesar de curta.
A paisagem era encantadora, verde e relaxante.
Devidamente autorizados pela minha mãe, lá fomos nós para nossa aventura, bem... para mim era uma ventura passear com meu tio quase adolescente ( ele tinha 20 anos na época) que raramente vinha nos visitar por morar longe.
Pegamos o trem na boa e velha estação de Sorocaba, e, sentada na janela fui observando tudo e comendo tudo o que me caia ás mãos... como são deliciosos esses lanches servidos em trens, não sei qual a razão, mas o sabor é diferente, mesmo que sejam pão com mortadela!
Chegamos à pequena cidade, conhecemos a praça, sentamos na escadaria da igreja para comer, rimos e nos divertimos toda a tarde.
Fizemos o retorno a Sorocaba também de trem, fui novamente na janela e observando as pessoas, a paisagem, o cansaço do meu tio, enfim, uma pequena aventureira! foi mágico, pois além de adorar meu tio, o fato de passear em um local diferente era realmente magia pura!
ao chegar em casa, toda eufórica para contar cada detalhe do meu passeio, gritei para minha avó, que nos esperava na cozinha:"Vó... fui para Piruó com o tio Zinhó!!!".
Achava Iperó muito difícil de pronunciar...

PS: Minha pequena homenagem à minha avó que nos deixou no último domingo...Saudades!


Carina.

Um bonde para a esperança.









Uma chuva caía impiedosa naquela manhã belo-horizontina de Janeiro de 1962. O Rio Arrudas com suas águas que invadiam as ruas do centro. Procurei me abrigar sob a marquise do Prédio da Mesbla, onde cada centímetro era disputado. Preocupava-me a pasta com os papeis da venda de uma casa no bairro Floresta. Naquela manhã um comprador em potencial, vindo do interior, me aguardava no local, conforme telegrama. A venda mudaria minha situação difícil naquela cidade. 

Mas a chuva cada vez mais rigorosa transbordava por todos os lados e ali, já sentia o perigo da inundação. Mais pessoas chegavam, por ser um ponto próximo da parada dos bondes. Cada um reclamava da necessidade de chegar no horário do trabalho, outros menos ocupados, já se dirigiam para suas visitas à famosa casa de prostituição da Zezé naquele bairro. Vidas se misturavam molhadas sob aquela marquise com desejos e sonhos bem diferenciados.

Quando o bonde surgiu, as pessoas como numa Cruzadas se precipitaram nele com guardas chuvas como armas para "pongar" no bonde. Desarmado do meu, senti impotente e vi o bonde sumir com gente pendurada como roupas em varal. As águas mais próximas do abrigo. Num ímpeto de fúria me atirei na chuva com a pasta enfiada sob o paletó e corri pela chuva, mas não consegui ir além da marquise das Casas Pernambucanas. De lá podia ver o antigo abrigo, com as águas inundando e as pessoas fugindo.

Olhei para o relógio e senti um frio na barriga, pois possivelmente o comprador já teria desistido, pois havia outro imóvel em mente. Quando um barulho ouvi e vi aquela marquise da Mesbla, desabar sobre algumas pessoas. Uma correria geral, pessoas pisoteadas, corpos caídos na enxurrada. Naquele instante minha fúria e forças foram nas águas e sai calmamente na chuva em direção a minha casa com um pensamento consolador, de que "perdi o bonde e a esperança e volto pálido para casa", mas com fé renovada de que lá em cima Alguém gosta de mim e me poupou a vida para ainda poder sonhar.


Toninho.
03/06/2012.

Tema: criar uma historia  com a frase  de Drummond: 
Perdi o bonde e a esperança e volto palido para casa.

Obrigado Sueli (responsavel pelo blog) nesta oportunidade neste espaço maravilhoso.

Como mineiro e conterraneo de Drummond não poderia 
ficar de fora sem tentar.