quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Começo da narrativa

Como os escrevinhadores, aqui, são “feras”, nossos dois encontros começaram de certa forma com uma dose de complexidade (personagens travestidos de outros, abordagem detalhada das características físicas e psicológicas das personagens e por aí...)

Não que a proposta de hoje seja de menor valia, ao contrário, mas é um processo conhecido de todos, todavia, bastante eficaz e aplicado pelos grandes escritores.
Pensando na história como uma viagem, percebemos a importância do começo da narrativa para provocar o leitor, despertar sua curiosidade, seduzir sua imaginação. Isto posto, como se faz o começo?
Muitas vezes, a história começa com a criação de um “clima”, de uma “atmosfera”, para sensibilizar aquele que lê. Pode ser uma “atmosfera” lírico-amorosa, de medo ou de mistério, por exemplo.
A criação do “clima”, geralmente, se obtém recorrendo à descrição.
Pode-se descrever o lugar, o espaço, o ambiente, ou seja, fazer uma caracterização do cenário onde o caso vai acontecer.
Logo nos primeiros parágrafos  já observamos, que Eça de Queirós utilizou esse recurso para introduzir a história de seu romance “O primo Basílio”. Primeiro descreveu brevemente o protagonista, depois, o ambiente.


PROPOSTA – DATA DA POSTAGEM 7/12/2009


Começar uma história a partir de um mote

“Um homem atravessa uma rua....”

Crie uma atmosfera sugestiva, a partir da caracterização dos elementos narrativos presentes na frase.



Mãos à Obra







segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Inspirações Poéticas - Por Marinês


Rindo à toa. A mãe sente que o filho está bem e despede-se.
Carlos continua a beber sua cerveja e a tocar.
Naquele exato momento, tem a ideia de compor. A composição é uma mistura da angústia que tinha vivenciado aquela tarde, com a felicidade de estar ali com a situação superada e continuar tocando.
Tocando "literalmente" a vida e a música. A música sim, é que era algo relevante em sua vida. E o amor?
Carlos, até hoje não vivenciara uma história a dois. Nesse momento, ele lembrou-se de Clarice Lispector,daquele conto do cego mascando chicles e que interferiu na rotina da dona de casa e a despertou para algo. Coincidentemente o Conto chama-se Amor. Pensou que seria bom vivenciar o amor.
Ele gostaria de interferir na rotina de alguém.
Seria bom!
Lembrou-se de Fernando Pessoa e acreditou que tudo vale realmente a pena, se a alma não é pequena...
Carlos, era um homem de grande alma.
Lembrou-se de Drummond..essas coisas!!! pensou ser tolo, pois, virava e mexia a cena do escritório ...a humilhante cena...remoia os seus pensamentos...e então, Drummond surgiu de novo em sua lembrança e que como disse o poeta:
- Você não está mais na idade de sofrer por essas ...essas coisas!!! e ainda o mesmo poeta, alertou:
- No meio do caminho, tinha uma pedra...tinha uma pedra no meio do caminho...
Pensando nessas belíssimas escritas, tão poéticas, Carlos viu que também se chama Carlos assim como Drummond e que faria de sua composição uma mistura desses autores que tanto admirava , nesse contexto, sua inspiração compilada ficou assim:

Você não deveria mais sofrer por essas coisas, Carlos!
Carlos, tudo, tudo vale a pena se a alma não é pequena...
A Carlos no meio do caminho tem pedras. Carlos tem pedras no caminho, mas, não desista, pois, quem sabe, o bonde passa e se por ventura, você estiver no ponto e ao mascar chicles, num simples e singelo gesto.
E por esse gesto você conquistar uma certa “Ana” assim como a personagem “Clariciana”...
Se isso acontecer Carlos...
A Carlos, sorria!!! E faça várias bolas coloridas com a goma de mascar.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Clarão no escuro.




Valentina morava em um apartamento alugado no antigo e decadente centro de São Paulo. Vendia suas carnes para garantir seu sustento. Mas, a bem da verdade, vendia muito mais que isto. Vendia companhia, vendia alívio para solidões urbanas, vendia mentiras, algumas sinceras. Vendia o equivalente a uma viagem de ópio ou LSD nas veias; com a vantagem adicional de não ser um comércio ilegal. Cobrava por isto, mais que justo.

Todos a conheciam nos bairros da redondeza. Chamavam-na de a “ ceguinha massagista”. Debochada, gargalhava alto sempre que ouvia ou sabia de alguém se referindo a ela desta forma. Como é dificil para as pessoas darem nomes aos bois – e às vacas. Parece doer. Nem ceguinha, nem massagista. Menos ainda deficiente visual e profissional do sexo. O que ela era mesmo era uma puta. E que P-U-T-A! Levava a sério o seu trabalho, nada fácil. Mas também, nada difícil se comparado às peças que a vida lhe pregou, desde sempre. Sagrava-se ao seu profano ofício de corpo e alma. E detestava eufemismos. Saber-se e declarar-se, sem reservas, uma puta, era a mais clara demonstração de que ela nunca teve medo de assumir a sua própria experiência existencial.

Jamais aceitou o papel de vítima. Não combinaria com ela. Seus pais eram cegos de nascença. Por capricho, burrice ou sabe-se lá porque, resolveram jogar dados com Deus. Era a mais nova de três filhos e, na roleta russa de seus pais, ela tinha sido sorteada. Era a única que nasceu cega. A cegueira era apenas a cereja de um bolo feito de pobreza e exlcusão vivida por uma famlia de trabalhadores rurais. Jamais perdoou seus pais por isto. Trazia dentro de si um grito contido, uma revolta que, misturados à uma dignidade nata, davam-lhe forças para seguir. Ainda menor de idade e anciã em espírito, na primeira oportunidade, tirou proveito da sórdida tara que o todo poderoso dono da fazenda, patrão de seu pai, demonstrava sentir por ela.
Acertos foram feitos entre eles para que ela se mudasse para capital e morasse com a família do patrão. A desculpa era de que seria companhia para os filhos pequenos do casal, uma espécie de babá que nada vê. Bem conveniente. A partir daí a historia não foi muito diferente de tantas outras semelhantes. Um dia descobriu que poderia cobrar pelo que vinha dando em troca de comida e teto. E caiu no mundo, literalmente.

Perspicaz, inteligente, não demorou a descobrir que tinha atributos que a diferenciavam no mercado de venda de carnes humanas. Sim, não era só um pedaço de carne nova e rígida. Ela tinha um dom especial. Sua alma era robusta. A alma de um xamã, o curandeiro ferido, capaz de , por isto mesmo, compreender e tratar as feridas alheias. Possuia uma antena delicadíssima com a qual captava todas as dores e desejos do mundo, dos homens em especial. Alem disso, criada solta entre os bichos, e depois filha das ruas, nao conhecia os falsos pudores ou as amarras da moral burguesa cristã. Tão pouco acreditava em Deus, embora soubesse que ele, mesmo não existindo, estava sempre no comando. E, no seu caso, parece que ele sentia um prazer quase mórbido em testar, a todo momento, sua resistência e seu estômago. Para ela a vida era apenas isto: um teste de resistência, uma ordem, um comando. Teimosa, tinha a mania que quase todo excluído desenvolve: mania de sobreviver.

Vivendo às escuras, não era nunca traida pela visão. Enxergar, às vezes, nos cega. Ouvidos atentos, tudo escutava e quase tudo compreendia. Falava pouco,quase nada. Em seu ofício, aprendeu a falar apenas e tão somente o que seus tantos posseiros desejassem ou precisavam ouvir. Abençoada ou amaldiçoada pelos dons de Afrodite, o toque de sua pele, de suas mãos, sua língua, eram capazes de levar o mais racional dos homens a perder a razão. Sábia, a natureza a havia compensado com o dom de iludir e enebriar os sentidos. E a prática a levava perto da perfeição nesta arte.

Solitária, bonita, corajosa, Valentina fazia jus ao seu nome. Puta valente, desejável e desejada. Etérea, fluida e fugidia. Seu corpo e sua alma pareciam feitos de barro. Amoldavam-se nas mãos que a tocavam e se transformavam no que o sonho ou delírio do outro quisessem. Uma gueixa, uma mulher de Atenas, sempre pronta para permitir que dela se servissem sem cerimonia. Reinventava-se e reinaugurava-se a cada novo homem com quem dividia o leito e ai residia seu poder. Saber esvaziar-se de si mesma, fazer –se indigente de desejos próprios e plena dos desejos alheios. Pronta a materializar-se no desejo de qualquer homem que estivesse disposto a lhe pagar por isto. Mas uma vez pago, não sonegava, não trapaceava ,não barganhava. Fazia valer cada centavo.

Talvez porque, uma vez paga, usufruia do quase mórbido e inconfessável prazer em saber que seus homens – era assim que ela se referia a eles – criavam, com o tempo, a mais absurda dependência dela. Como poucas mulheres sabia ler as carências da alma masculina e preenchê-las com sua agridoçura. Por isto mesmo, seu vôo sempre foi solo, nunca precisou que a agenciassem. Sua propaganda era boca a boca e sua clientela fidelizada e selecionada. As condições eram impostas por ela. Sim, havia condições. Dentre as quais, três eram inegociáveis. Jamais atendia no apartamento em que morava; jamais falava palavra sequer sobre si mesma, jamais revelava seu nome verdadeiro. Seu nome de guerra era Cristal. Duro e transparente como seu coração, Valentina se resumia apenas nisto, um coração lindo, duro e transparente como uma drusa de cristal.

O prédio onde morava era daqueles antigos, lá pelos lados da Barra Funda. O bairro, depois da migração dos judeus para Higienópolis, era agora totalmente comercial, com alguns poucos imóveis residenciais decadentes. Valentina morava em um deles, bem antigo, de seis andares. Seus vizinhos, como convém à hipócrita classe média, fingiam não saber do que ela vivia. Mas apenas fingiam. Todos sabiam. Até a perdoavam. Afinal, ser cega lhe rendia algumas indulgências. Ela se lixava pra isto. Alguns, mais genuinamente cínicos, chegavam a se achar no direito de obter favores, literalmente favores sexuais. Mas nenhum se atrevia a propor algo assim, abertamente.
Ela queria mais é que todos se danassem. Todos, menos três de seus vizinhos: os seus dois vizinhos de porta, no penúltimo andar daquele cortiço vertical e um intigrante e silencioso vizinho do último andar. Não sabia nada sobre eles, especialmente não sabia nada sobre o vizinho do andar de cima.

Seus vizinhos de porta não faziam segredo de que a cortejavam. Todo dia, quando ela chegava, depois de um dia exaustivo de trabalho, lá estava um deles esperando por ela. Parecia que haviam combinado um revezamento de cavalheiros. De uns tempos para cá, ela nunca subia sozinha. Subiam sempre em três. Ela, um dos vizinhos de porta e o misterioso morador do último andar que, todo dia, impreterivelmente, estava no hall à mesma hora que Valentina chegava. O ritual se repetia. No quinto andar, a porta se abria, o homem do sexto andar adiantava-se em descer, estendia-lhe a mão para que ela saísse do elevador, sem dizer palavra. Nem mesmo quando ela lhe agradecia a gentileza ouvia dele alguma resposta. Em seguida descia o vizinho de porta do dia, e o elevador se fechava e subia ao som do burburinho de vozes e risos de Valentina e seus vizinhos.
O vizinho da esquerda decidiu que iria conquistá-la pelo olfato. Sabia que os cheiros podem ser um convite ao pecado e chamam o sentido da gustação. Marcava sua presença pelo uso de uma deliciosa colônia que aprisionava os cheiros de relva. Também deixava a porta de casa entreaberta e de lá se insinuavam os mais exóticos cheiros. Perfumes adamascados e amadeirados. Já o vizinho da direita, apostou em usar armas que a conquistassem pela audição. Sabia o quanto uma voz macia, segura e aveludada pode conseguir de uma mulher. Não sem razão, se diz que uma mulher é capaz de ir ao gozo guiada pelo que ouve. Deu à vida de Valentina uma trilha sonora, das mais cuidadas e sofisticadas. Um amante e estudioso da boa música, desde sempre, tocava seu sax com maestria crescente. Sempre que tinha oportunidade, lia para ela pequenos trechos de poesia, uma poesia encharcada de conteúdo discretamente lascivo.

Valentina se enternecia pela delicada devoção que ambos lhe dedicavam. Mas, no seu íntimo, sentia pena deles. Pena por saber que ambos jamais chegariam a tocá-la como mulher. Nem ela mesma sabia qual era o caminho que levava a seu coração, terra de ninguém. Mas sabia os que não levavam. E o sentimento de compaixão, especialmente em uma mulher, esteriliza o terreno para o surgimento de qualquer outro sentimento. Valentina sabia que eles a desejavam e a amavam apesar de ela ser cega e ser puta. Mas era exatamente este “apesar de” o golpe mortal em suas chances de vir a tê-la. Estes dois atributos eram toda sua essência. E ela não se dispunha a viver um amor de ressalvas. Por isto não se dispunha a viver nenhum amor. Business, tudo era business quando o assunto era homem.

Um dia, quebrando a rotina, Valentina chegou na portaria do prédio e não encontrou ninguém. Já estava dentro do elevador , quando percebeu a sanfona de metal sendo aberta. Ah sim! Era o homem do último andar, aquele cujo silêncio, até então, havia sido a tônica.

Subiram. No andar de Valentina o elevador parou dando o costumeiro tranco das máquinas ultrapassadas. Antes que ela pudesse descer, ele segurou seu braço com alguma força e perguntou, melhor, afirmou:
- esta noite quero que suba comigo ao sexto andar. Quero vencê-la com você.
- como?
- quero que gaste comigo esta noite.
- você me conhece de onde? Onde já nos cruzamos?
- daqui mesmo, do elevador. Há meses subimos juntos. Nunca ouviu meu silêncio?
- bem, mas pela ousadia da sua proposta, creio você certamente já ouviu falar dos meus serviços. E deve saber de minhas regras também. Não atendo aqui e não sou barata, nem amadora, isto pode lhe custar caro.
- você não entendeu. Não estou te propondo um negócio. E não sei ser posseiro. Será que tem medo de enxergar?
- enxergar o que cara pálida?
- que você, como toda mulher, pode ser uma puta, e que a quero minha puta?
- você só pode estar brincando.
- nunca falei tão sério.
Ela ainda tentou esboçar alguma frase, interrompida por um beijo de uma língua molhada, entrando atrevida com dente e tudo.
- apenas por esta noite se permita ser um puta, não tenha nenhuma outra intenção que não a de desfrutar de seus instintos junto comigo. Apenas renda-se a eles, por esta noite.

Pela primeira vez Valentina parecia soltou seus bichos e perdeu o controle da situação.Como tergiversar sobre seus instintos mais primitivos, agora soltos, se instintos não se explicam?

Um cheiro de cio inundando o ambiente e anulando qualquer outro cheiro. Entraram no apartamento dele e foderam a noite toda, entre gemidos, corações aos pulos, troca de frases obscenas sussurradas dentro do ouvido, termos chulos e descompassados, como convém aos bichos. Beijos indecentes, peles fundidas.
Acostumada a fazer sexo, desta vez era diferente. Não fazia sexo, nem fazia amor, que amor não se faz, se sente. Era entrega, era a primeira foda de toda sua vida. Despida de
medos, defesas e pudores, de tratativas financeiras ou qualquer outro compromisso, ela descobriu o gozo vindo do tesão indomável de cadela. Liberta, deixou-se usar como objeto maleável e manuseável, de todas as formas. Nada de compra ou venda; somente uma troca maravilhosa de cheiros, umidades, toques e gozos.

O dia quase amanhecendo, ambos exaustos. Uma única pergunta feita com palavras que faziam nexo:
- qual o seu nome?
- Valentina.
Dormiram enlaçados.

Já se passaram meses desde este dia. Ninguém sabe contar sobre o paradeiro de Valentina. Ninguém sabe dizer o que aconteceu depois. Nunca mais a viram depois da noite em que Valentina descobriu ser verdadeiramente uma puta. Porque há em cada mulher um puta que, mais cedo ou mais tarde, se revela pelas mãos de um louco libertino que não as amam com ressalvas. Que as desejam exatamente porque as sabem putas e com elas fodem. Fêmeas no cio, descabeladas, suadas, molhadas, transpiradas, mijadas e genuinamente belas. Mulheres que não são mesmo “flor que se cheire” mas que quem cheira não esquece e pede bis. “Marias sem vergonha” que mais cedo ou mais parte, por um momento mais ou menos breve, se sentem abençoadas. E começam a enxergar o mundo com todas as suas cores.

O homem do último andar também sumiu. Se estão juntos, em algum lugar, ninguém sabe, ninguém viu. Mas por certo, nenhum outro homem, exceto ele, saberia por que nome procurá-la neste mundão de meu Deus.

Ficamos torcendo, eu pelo menos, para que estejam juntos. E que Deus abençoe as putas, todas elas, todas nós.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

OS PASSOS (2)


Toc toc toc. Sobressaltou, morava ali há alguns meses e até então não havia percebido que morava alguém no andar de cima, devia ter se mudado no final de semana, enquanto ele viajava.

Toc toc

Eram saltos, com toda a certeza eram saltos. Era ágil, provavelmente uma jovem. Mais dois passos estaria exatamente sobre sua cabeça.
Afastou o pensamento e tentou se concentrar no texto que estava ditando ao computador.
“ Certamente…" - toc toc….

O texto se perdeu novamente entre os sons dos passos que ela provocava sob sua cabeça. Levantou-se, pegou o controle remoto, o noticiário. Mais uma vez os passos o desconcentraram.

Perdido em seu devaneiro, uma projeção. Talvez se subisse ao segundo andar e se apresentesse, talvez ela não se importasse. Era nova no prédio, talvez não tivesse companhia, só ouvia um tipo de passo no apartamento, o que indicava que viva sozinha. E assim divagando ouviu o “Bam” da porta. Estava saindo, suspirou arrancado de sua fantasia, resolveu terminar o texto que os passos haviam arrastado para outro lugar.

A batida da porta e os passos. Ansiou pelos passos o dia todo. “São exatamente dezenove hora e doze minutos” – Ela é pontual. – Se pegou analisando os movimentos dela, horas que chegava, para onde ia dentro da casa. Baseado nos movimentos criava o cotidiano dela, e no cotidiano dela passou a viver seu contidiano.

“Vou” – mas o que dizer? - E toda a coragem aos poucos foi se perdendo, se pegou mais uma vez sonhando, em convidá-la para beber algo, conversar, ter mais alguém. Mas e se ela somente aceitasse por pena, não suportaria tal idéia. Desistiu.

“São exatamente dezenove horas e quinze minutos” – Sentou-se e aguardou, cada minuto um suplicio, até que ouviu a batida da porta. Cinco passos e estava sob sua cabeça, caminhou mais um pouco, e outro som, música, sorriu, hoje ela tinha outro ânimo. Surpreso, percebeu outro som, sua voz acompanhando a música, algo mudara dentro dele, algo foi arrancado, a tranquilidade. “Entre por essa porta agora….. Você tem meia hora para mudar a minha vida...” – Doce, era isso, era doce.

Perdido em seus pensamentos ouviu a batida da porta. Um desespero tomou conta, era uma oportunidade, oportunidades não aparecem duas vezes para a mesma pessoa. Sentiu seus pés fincarem ao chão enquanto o tempo passava e sua covardia o prendia ali. Suava frio, tentando espantar o medo da rejeição pegou sua guia, correu até o elevador. Chegou no exato momento em que esse chega ao seu andar.

Aguardou a porta se abrir, o cheiro que saia dele entrava por suas narinas e o congelava por dentro. Num movimento rápido automático ela tocou no seu braço.
- Precisa de ajuda?
Esboçou um sorriso tentando disfarçar o medo.
-Não obrigado.
Hoje ela tinha cheiro, voz e toque. “Você tem meia hora para mudar a minha vida”, essa frase martelava sua cabeça.
Timidamente … quase inaldível, esboçou o seu desejo, cantarolou:
“Voce tem meia hora para mudar a minha vida.”