terça-feira, 11 de junho de 2013

Alternativa

Flora nasceu em uma sociedade alternativa, onde tudo era plantado, produzido e manufaturado.
Não conhecia o mundo moderno, cheio de máquinas, consumo e todas as coisas que uma jovem de 16 anos conhece normalmente.
Era uma bela menina, com cabelos negros longos, chegando à cintura, tinha lá a sua vaidade, dentro do que conhecia como moda e cosméticos, afinal só usava roupas produzidas no local, e usava produtos feitos a partir de materiais também disponíveis no local, poucas coisas vinham de fora.
Fora educada para uma vida sem muitas regras com horários, o trabalho era feito mas sem pressão, todos conviviam na mais harmoniosa paz, todavia houvesse alguns desentendimentos, era prontamente intermediados pelos Ansiães que eram os homens mais velhos do local.
Seus pais tinham uma certa autoridade, chegaram pouco antes de ela nascer, vieram por vontade própria e amavam aquela vida tranquila e longe da cidade.
Quando um dia não foi a surpresa da garota quando seu pai disse que ela deveria conhecer a cidade, que não era certo mantê-la ali sendo que ela nunca conheceu outra vida, outras pessoas, ficaria na casa de uma grande amiga na cidade.
Era um homem sábio, dono de uma voz baixa mais de uma força que poucos conseguem, o que ele dizia era aceito sem questionamentos, não por submissão, mas por saberem que no final ele estaria certo no que dizia.
Então lá se foi Flora estudar em uma escola na cidade mais próxima.
No início ficou bem assustada, todas aquelas pessoas indo e vindo com tanta pressa, falando ao telefone celular, barulhos de todos os tipos, cheiros de comida dos restaurantes misturados aos cheiros de perfumes das lojas de cosméticos...
Com o passar do tempo passou a se acostumar, mesmo sendo motivo de riso às vezes devido às suas vestes que eram estranhas ao colegas de sala.
Mas como ainda era muito jovem e pouco conhecia da vida, foi se adaptando cada vez mais aos costumes cosmopolitas, passou a usar roupas mais elaboradas, maquiagem, arrumou mais os cabelos, chegando mesmo a pintá-los.
Ficava pensando se conseguiria voltar a morar com os pais depois de terminados os estudos.
Quando chegou o dia de voltar para a casa, alguns anos depois, Flora ao ver o sorriso dos pais, decidiu que por mais que lhe fosse complicado, viveria com eles, mas em seu coração sempre seria uma moça da cidade, gostando de roupas bonitas, tecnologia, entre outras coisas, e prometeu-se que jamais mostraria sua tristeza de voltar para os pais, manteria sempre o sorriso e encontraria felicidade nas coisas simples como fora educada para encontrar.

Carina.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Da janela lateral.

Na Fazenda Boa Esperança morava Venâncio um exímio vaqueiro. Era um mulato de alto que veio do Vale do Jequitinhonha para a lida com o gado. Tinha um olhar adormecido de quem guardava alguma tristeza, contraste com o farto sorriso, que sempre trazia no rosto. Nada se sabia de sua vida, além da sua habilidade junto aos animais, que devotavam obediência aos assovios do Venâncio. O homem de mãos rudes acariciava a terra próxima do curral, onde cuidava da pequena horta onde colhia algumas hortaliças. Às vezes era possível ouvir sua voz em canto triste vindo da casa dos vaqueiros, quando a noite baixava sobre a fazenda.

Da janela lateral da casa sempre pela manhã era possível ver a figura de Verônica, uma linda moça nos seus 18 anos de sonhos e fantasias.  Tinha por charme carregar uma flor presa aos cabelos castanhos que desciam sobre os ombros. Tinha um sorriso constante e contagiante como se a vida toda fosse festa e alegria. Cantarolava pelo dia como uma cigarra com suas musicas apaixonadas. Estar na janela pela manhã, era um ritual desta moça, como um encontro marcado. Ali ficava com seu olhar lançado no campo à sua frente. Às vezes furtivamente seu olhar passeava por onde se encontrava Venâncio, parecia que ela se encantava com a presença daquele homem cuidando da horta com tanto carinho e leveza de quem acaricia os cabelos de uma mulher amada. Havia uma ternura neste olhar, mas que logo se perdia no campo.

Certo dia a mãe de Veronica entrou silenciosamente pelo quarto e percebeu uma lagrima no olho da filha, que tentou ocultar com um leve passar de mãos pelo rosto e esboçou uma desculpa para a mãe. Saíram do quarto em silencio. Desconfiada a mãe vigiava movimentos da filha. Não imaginava o que poderia fazê-la chorar, uma vez que sempre se mostrara alegre e cantante, mesmo sem ter um namorado, que era comum na sua idade. Certo é que ela vivia sem traumas ou frustrações, mas agora sabia do seu coração triste. Isto a incomodava, com seu coração de mãe zelosa. 

Numa manhã a mãe se dirigiu ate a horta, para pedir a Venâncio algumas cebolinhas e salsas para usar no almoço. Olhou para a janela lateral da casa onde ficava o quarto da filha e percebeu que ela não estava aberta. Gritou por Venâncio e não o encontrou por perto. Colheu as hortaliças e voltou para casa. Curiosa gritou pela filha e sem resposta foi ao quarto e percebeu a ausência da filha, as portas do guarda roupas abertas. Sentiu um frio cobrir-lhe o corpo e nervosa saiu pela casa. Voltou à casa do vaqueiro e lá entendeu o que tinha acontecido. A filha tinha fugido com aquele vaqueiro por certo o amava escondido por medo dos pais não aprovarem o relacionamento. Em desespero saiu pela estrada que ligava a cidadezinha, quando foi amparada por uma vizinha que a conduziu de volta para casa, enquanto outro vaqueiro galopou para a cidade para encontrar seu marido que estaria no armazém da família. Agora a mãe debruça sobre a janela lateral e seu olhar se perde na estrada.

Toninho