Não sei se começo pelo de dentro ou de fora, pela gravata ou pelo paletó. O que eu sei, com uma verdade pertubardora, é que aquela imagem ficaria retida na minha mente para o resto dos meus dias. A maneira com ela abria os botões da blusa e a delicadeza com que colocava o broche sobre o criado mudo foi o rito de passagem na minha mocidade.
Olhar seu corpo nu sobre os lençóis, o reflexo do sol sobre o broche, formando em suas pernas desenhos de tons entre o âmbar e verde claro, iluminava minhas tardes naquele finalzinho de Setembro. Eu era o mais feliz dos homens, então. Outros momentos, outros corpos seguiram-se a esse. Mas, em nenhum, cores e pernas entrelaçaram-se com tamanha harmonia.
Curioso por natureza e pesquisador por profissão, não tive sossego enquanto não voltei, trinta anos depois, à bela cidadezinha perdida entre planaltos e planícies. As pedras brancas espalhadas por todo o local e uma das primeiras catalogadas em minhas pesquisas serviam de pretexto para revistar o museu e, quem sabe, descobrir o paradeiro daquela que tanto prazer me deu.
Qual não foi minha surpresa ao adentrar no museu, deparei-me com uma luz entre o âmbar e o verde claro, coração acelerado, andei lentamente em direção aos raios luminosos, e lá estava ele, alojado sobre uma almofada azul, dentro de uma delicada caixa de vidro: — o broche . Perplexo, perguntei à moça do balcão que gentilmente contou-me toda a história. O broche tinha sido encontrado no sótão de uma casa, por volta de 1840, e passado de geração a geração, uma relíquia da Rússia czarista, e, olhando bem nos meus olhos, segredou: — Junto foram encontrados dois cadernos, infelizmente com letras ilegíveis, mas, em um deles, foi possível ler sobre um grande amor vivido. O povo aqui acredita em muitas histórias, o senhor sabe, e desde que o broche veio para cá, há quem diga que todas as moças que tiveram o privilégio de usá-lo viveram momentos inesquecíveis de prazer e amor.
O senhor acredita nisso, senhor...?