terça-feira, 10 de julho de 2012

CONTO POLICIAL: “O gosto pelo enigma”





O gênero policial se compõe basicamente de um crime e um detetive. Diferente do Terror, o Policial aposta no mistério e na lógica para prender a atenção do leitor. Seus personagens principais são sempre (criminosos e policiais) dotados de uma inteligência ímpar e o duelo desses gênios costuma ser o ponto alto do gênero. Autores do gênero Policial: Arthur Conan Doyle, Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Luiz Lopes Coelho...

A morte de Maria Pia
Denúncia sem palavras

 Encontraram o corpo na estufa, cercado de begônias, avencas e samambaias. Estendido de costas, com uma tesoura de jardim enterrada no ventre. Agonizante, Maria Pia arrancara do peito uma cruz de ametista: ainda a segurava, apoiada no solo, com a haste maior para cima. Paralisara-se a outra mão no cabo da tesoura, na vã tentativa de arrancá-la. O corpo atravancava a única passagem da estufa, dividida por ela, cheias de vasos e xaxins, no chão e em prateleiras. Os pés voltados para a entrada. Não havia sinais de luta nem de violência carnal. Ao seu lado, cinzas de cigarro. Inelutável o raciocínio do velho Leite: se essa moça, depois do malogro do noivado, levou vida de freira, como está comprovado, o seu assassinato deve ser procurado na fase pregressa quando vivia normalmente com a família, na escola, entre os amigos.
Excluía a hipótese de ser um desconhecido ou tarado o autor do crime. Quando Maria Pia entrou na estufa, lá não havia ninguém, e a pessoa chegada depois era de suas relações, necessariamente. Explicava por quê. Primeiro, a disposição das plantas não permite um esconderijo. Segundo, se Maria Pia topasse com um desconhecido, não entraria na estufa. Terceiro: estava o corpo de costas, ocupando toda a largura da passagem, e os pés voltados para a porta. Maria Pia encontrava-se, portanto, de frente para a entrada da estufa, quando foi atacada; logo, já se achava na estufa, quando o assassino chegou. Quarto: correspondendo as cinzas encontradas a dois cigarros – e Maria Pia não fumava – depreende-se ter havido uma conversa mais ou menos longa entre a moça e o visitante. Por fim, Maria Pia conhecia o assassino, e o assassino deve ser procurado entre as pessoas de suas relações no tempo pré-monástico.
Luiz Lopes Coelho

Luiz Lopes Coelho (1911-1975) escritor- literatura policial.  O Homem Que Matava Quadros- A Ideia de matar  tia Belina- entre outros.


PROPOSTA


DATA DA POSTAGEM 26/07

Escreva uma narrativa coerente, criativa, com base nos seguintes dados:
O(s) criminoso(s); como o crime se deu; as causas.



6 comentários:

  1. Mistério...suspense... e uma boa dose de imaginação. Então, meus queridíssimos, agora é só "brincarmos(delícia) dessa coisa séria que é o exercício da escrita.

    abraços.
    sueliaduan

    ResponderExcluir
  2. Bela tarefa amiga.Um exercicio que ainda não me ousei.Vamos tentar.
    Um carinhoso abraço de minha admiração.
    Bjo.

    ResponderExcluir
  3. Que bom que gostou,Toninhobira. "Ouse", mas de antemão digo que iremos nos deliciar com seu escrito.

    Há certo preconceito em relação ao gênero policial (uma escrita "menor"). Mas há vários livros, estudos com uma outra visão, e um que gosto muito é: "Sobre Gênero policial: a metafísica do conhecimento em Zodíaco -artigo de Fernando de Mendonça"

    abração

    ResponderExcluir
  4. Uma triste história que poderia ser realidade, muito bem narrada numa escrita menor.

    Parabéns Sueli! ficou ótima!
    Prazer conhece-la. Ivany

    ResponderExcluir
  5. Prazer também querida Ivany.

    Eu sempre gostei muito dos contos do Luiz L.Coelho. E ele também foi um dos responsáveis "na luta" para "derrubar" essa visão do gênero policial como sendo uma escrita menor.

    Forte abraço.

    ResponderExcluir
  6. Prazer também querida Ivany.

    Eu sempre gostei muito dos contos do Luiz L.Coelho. E ele também foi um dos responsáveis "na luta" para "derrubar" essa visão do gênero policial como sendo uma escrita menor.

    Forte abraço.

    ResponderExcluir