domingo, 9 de janeiro de 2011

Poema em prosa

O poema, para ser poema, precisa do verso?
O poema depende do verso?
É refém do verso?
Há poema fora do verso?

O GRANDE DESASTRE AÉREO DE ONTEM
“Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu stradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o pára-quedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranqüila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol”. Jorge de Lima

EMBRIAGAI-VOS
“É necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e voz faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis. E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder: - É a hora da embriaguez! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor”. Charles Baudelaire

DATA DA POSTAGEM- 24/01/2011
PROPOSTA

Escreva um poema em prosa sobre um fato, um acontecimento ou ainda, em forma de “ensinamento”, “advertência”, como fizeram respectivamente Jorge de Lima e Charles Baudelaire.
  
Alguns clássicos do gênero "poema em prosa”:
- Pequenos poemas em prosa, de Charles Baudelaire (Nova Fronteira).
- Uma estadia no inferno e Iluminações, de Rimbaud (dentro do volume Prosa poética, da Topbooks).
-Os três mal-amados, de João Cabral de Melo Neto (Nova Fronteira, dentro da Poesia completa.

5 comentários:

  1. Meus queridos, um bom e prazeroso trabalho!!!

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  2. Hum!aí é que o trem fica bão, katia. rs
    bj

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  3. Olá professora! Acabo de conhecer seu blog e fiquei muito feliz em encontrar um espaço onde possa aprender, já que ando escrevendo obsessivamente sem saber direito qual direção seguir.

    Pensei que talvez tenha dois textos que se encaixariam em poemas em prosa (um poema-conto inclusive). Como faço para participar? Os dois textos são:

    http://cassandrakisaco.blogspot.com/2011/01/simone-um-conto-no-meio-do-dia.html

    http://cassandrakisaco.blogspot.com/2010/12/sergio.html

    ...de qualquer maneira gostaria de escrever outro para participar. Como faço?

    Abraços.

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  4. Olá Cassandra,que maravilha escrever obsessivamente :o) Eu escrevo todos os dias ,como exercício mesmo, a maior parte fica na gaveta, mas é ótimo.
    E, é muito simples participar, aliás, espero que participe não só desse exercício , mas dos futuros.

    Escreva-me: ssaduan@yahoo.com.br
    que envio o convite e vc mesmo posta. certo?
    abraços

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