segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"À queima roupa"


 Nesse momento olho-a fixamente. Alheia a tudo  ela não se dá conta, não me vê  não enxerga. É como se uma nuvem de fumaça existisse nessa ousada troca de rápidos olhares. Contraio os lábios num quase sorriso, e sutilmente escondo a imensa necessidade de perguntar-lhe:
— Como vai ?  De falar-lhe:
— A lua está tão linda.
Seu olhar perplexo me confunde. Desisto. Quem sabe amanhã. Um outro olhar, mais demorado, uma piscadinha, uma cumplicidade, ou até, quem sabe, um sorriso mais largo, frouxo, debochado. Por quê, não?
E eu vestida de coragem à queima roupa, pergunte-lhe
— O porquê de tanta distância. E feito criança mostre -lhe uma borboleta.  E ela cheia de vida:
—Linda, é azul. Voou.
Mas é só uma possibilidade. Nem um som sai de sua boca. Silêncio absoluto.
Com o olhar marejado de lágrimas olhamo-nos fixamente.
Nesse momento uma  infinita vontade de passar-lhe a mão pelos cabelos. Niná-la. Mas, não.
Então, abro lentamente a gaveta e guardo, mais uma vez, o espelho.

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