terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Linha tênue.


A equipe passa rápido, logo em seguida, alguém empurra a maca. Sentada ali na sala de espera. Nem sabe ao certo a espera do que. Lembrou-se do passado. De quando em frente ao espelho "maquiava-se". Da vida agitada e entediante. Da vida agitada e interessante. Apenas um vacilar, um vacilar e tudo estava por um fio. A vida e a morte estavam ali face a face. E ela sentada a espera de algo. Três horas da madrugada foi o momento em que entrou por aquela porta. Um pouco embriagada acreditava. Bastante embriagada reconhecia. Extremamente embriagada admitiu!!! Na maca o tecido branco tornou-se vermelho. Cadê a equipe que não traz noticia? Lembrou-se do dia seguinte. O jornal estamparia na primeira capa: Acidente trágico. Vítima fatal! Vitima e fatal! Dois bons motes para se virar matéria de jornal. Bobagem, no jornal a escrita dela não teria espaço. Espaço no jornal só mesmo se a noticia for de morte. E ninguém vem lhe trazer a noticia que espera... Morreu, não morreu, ainda existe? Ainda existe, nessa sala, uma coisa que ronda os seus pensamentos. Como pôde ter feito aquilo? Essas roupas brancas levam-na a pensar coisas obscuras. Sim, ela sabe que é paradoxal. Mas, essas roupas brancas (nem tão brancas assim), visto que viu umas enfermeiras com umas camisetinhas bem amareladas. Teve vontade de dizer para “botar” de molho na cândida. Mas veja se são horas para se pensar nesse assunto? Veja se são horas para se pensar nas escritas dos jornais? Veja se são horas para se pensar em alguma coisa? Sentia-se lúcida. Ao mesmo tempo bêbada, pois só conseguia proferir pensamentos incompletos. As ideias dançavam e cintilavam em seu cérebro... uma euforia atraente.

Sete da manhã ainda a espera. Um café bem preto, bem forte, vai bem! Esse preto do café confunde ainda mais suas ideias. - Mais um café. - Tem com rum ou com vodka?

- Não . Isso aqui é um hospital!

12h. Tocam as badaladas. E ela aqui desde a ultima balada. Lá vem o medico.

- e aí Dr?

- Dr...? Tem certeza? Largue o café. Você precisa mesmo é de uma boa dose de glicose e na veia! Ao sair da sala sentiu que a espera...Essa espera...Esse local...Esse branco...O preto...As cores..Os pensamentos... O estresse...A embriaguez...Tudo isso acabaria em breve. Apenas uma dose de glicose e tudo isso ia para o espaço. Correu...Fugiu...Gritou... Xingou... Jogou a xícara no chão!

.................................

Só souberam dela pela foto estampada no jornal. O título dizia: - Mulher descontrolada e embriagada faz escândalo!!!

Ao ler a noticia, riu. Riu escandalosamente. Imaginou como seria se eles soubessem que ela não tomava nunca em hipótese alguma, bebida alcoólica? Continuou a admirar sua foto.

3 comentários:

  1. Gostei muito, Marinês. Ficou muito interessante o "jogo" que criou :"vida agitada e entediante" /"vida agitada e interessante"; "Um pouco embriagada/ "Bastante embriagada" e todos os outros...contrapontos , além , claro, da estória em si. Bela loucura!!!

    ResponderExcluir
  2. ops!Interessantíssimo tb o título, Marinês. É mesmo uma linha tênue que separa lucidez e loucura. E o jornal com a chamada "A RAZÃO":um fecho de ouro no seu trabalho.

    bjs

    ResponderExcluir
  3. Tem os elementos-chave dos contos anteriores: o espelho, da Sueli; as cores do Santiago; a incerteza como princípio, da Katia; e o jornal do meu conto -- o que me agradou! Rs...
    Bjos!

    ResponderExcluir