quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Passer Sous Silence.


O relógio diz às horas que ele teima em repetir a observar, esperando algum lapso no tempo-espaço que pudesse engolir sua ansiedade, suprir essa necessidade de espera. Algo que pudesse aliviar todo esse sentimento angustiante que lhe causa todo esse desconforto, mal-estar representado pelos seus dedos tensos e entrelaçados. Estes mesmo dedos que teimam em lhe coçar a garganta, seca, enquanto espera.
A espera, por alguém. Alguém que ele nem tem certeza de que ira chegar. Mas ali está ele. Em todos os horários, olhando pro relógio da parede esverdeada daquele quarto, sozinho. Observa lentamente cada segundo custoso a percorrer aquele relógio, enquanto oscila entre rompantes de ódio, amor e desespero.
“Ele não vem, ele não se preocupa, ele nem lembra meu nome”. Pensamentos recorrentes, enquanto vê os ponteiros praticamente paralisados daquele mesmo relógio, naquela mesma parede, daquele mesmo quarto e ele, sozinho, encostando sua costa travada naquela parede gelada, e esfregando com força os olhos para esquecer essa espera sem sentido por alguém que nem ao certo poderia afirmar que algum dia irá chegar.
Porque se preocupar a tal ponto? De se fixar nestes ponteiros, por alguém. E por você mesmo, evaporar se numa sala e condensar se no mesmo lugar horas depois, ainda esperando. As respirações ofegantes sufocam-lhe a lucidez que se esvai com os tics sem tac do relógio mudo. Até quando ele vai se manter nessa espera? Ali, parado.
Olhando pra transfiguração desse tempo parado, essa situação desmarcada do compasso do próprio tempo. E mais um segundo se passa, sincronizando os horários. Pensando em mim? Que chegue então. E nunca chega, nunca. Mas a espera não cessa. A pessoa não deu nenhum sinal e ele, feito bobo, está destinado a ficar parado ali. Bem ali, naquele quarto verde, enquanto o relógio ainda funcionar e ele tiver algum motivo bobo para ficar.

6 comentários:

  1. Nossa, que situação terrível Sueli, esperar por alguém... o enontro deveria dar-se com a própria pessoa.
    Beijos e bom fim de semana.

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  2. Terrível sim, minha querida, profundo e belíssimo Elisa Zambenedetti, grande Márcio Moraes né.

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  3. ...sufocam-lhe a lucidez que se esvai com os tics sem tac do relógio mudo".

    Arrepiei-me! Chegou (a mim) quase com uma cena (cinema? teatro do absurdo :o)) Narrativa deliciosa Márcio e um questionamento incrível dessa "nossa espera". E eu me pergunto (e ouso responder) :- "de nós mesmos"?
    gratíssima

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  4. Eu tenho problemas com esperas, não consigo esperar com paciência. Fico angustiada.

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  5. A espera infinita que rouba a paz,estilhaça na lucidez.Beleza de criação do Marcio uma grata participação.
    Parabens Marcio sua presença enobrece este belo espaço da Sueli(nosso)rsrs.
    Um abraço Sueli,gostei.

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  6. Amei Márcio... seja bem vindo e volte sempre!!

    Carina.

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