domingo, 30 de maio de 2010

Aviso da Lua que menstrua

Ah Su queria postar aqui um monte de coisas... quanto mais me afasto da poesia mais atrelada a mim ela fica.
Atitudes poéticas, difícil dizer o que pode ser poesia para cada um, é tão subjetiva que o objetivo pode parecer poético.
Eu me encanto com tudo, um dos motivos pelo qual não dirijo. Sou incapaz de me manter focada em algo, me encanto com o caminho. Com gestos, com palavras ditas ao acaso, me encanto com um sorriso escondido nos lábios quando não era para ser notado. Ultimamente dei de me emocionar com a beleza. Mesmo quando ela não é para ser beleza e lá no fundinho eu encontro, ou junto todas as palavras e encontro beleza lá... me emociono de verdade, choro a cântaros, mas tudo bem, faz parte do ofício.

Então gostaria muito de colocar algo meu aqui, mas... o meu é tão eu... que me impossibilita de dizer então coloco Elisa Lucinda. Como adoro ver essa mulher... Adoro o que escreve... E ilustra um pouco do que disse acima....


Aviso da Lua Que Menstrua

Elisa Lucinda

Composição: Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. de leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

Um comentário:

  1. [...]Então gostaria muito de colocar algo meu aqui, mas...o meu é tão eu...]:-
    De certa forma você colocou, e o fêz de uma maneira belíssima. Também gosto demais desse poema e ,claro, da poeta.

    Há um pouco de cada um de nós no outro, nossas poesias são frutos de nossas leituras, de nossa visão de mundo, do nosso encantamento e do nosso espanto.
    Abrilhantou o espaço!:o)

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