quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mais um....



Outra vez.
E outra.
Mais uma vez.
Chova ou faça sol.
Destino traçado tostão a tostão.
Tochado goela abaixo.
Mais uma criança interrompida.
Desce o morro.
Mais uma criança.
Que arrasta o corpo.
Mais um corpo que carrega outro.
Mais um meio atropelando o inicio.
Mais um dia sem fim.
Sem Cruzeiro.
Cruzado.
- É 10,00 Real moço!
Mais uma criança.
Mais um treco.
Mais uma que sobe o morro.
Outra vez um trapo.
Outra vez sem corpo.
Outra caixa.
Do lixo ao lixo.

8 comentários:

  1. Bem comentando.
    De início pensei num texto em prosa. Tudo bem, dei o ponta pé, mas por uma série de empecilhos acabei por abandona-lo quase que de largada. Porque?
    O assunto em si foge totalmente a minha realidade. Aí não consegui escrever sobre algo o qual eu não dominava. Me vi totalmente ignorante sobre o tema. O que me causou uma certa revolta tb... Ao mesmo tempo que sou uma pessoa politizada, interessada, inconformada, não tenho contato com certas realidades, não por falta de interesse, preciso deixar isso claro. Aí me perdi totalmente no texto. Acabei recorrendo a uma velha amiga que estava um pouco esquecida, a poesia. E a gravidez na adolescencia é como chover no molhado mas é o problema social ao que mais tenho contato.

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  2. Poema enxuto, linguagem concisa. Gostei, ka.
    Outra vez/ e outra/ mais uma vez/:A questão da determinação do “tempo” e do “destino” como repetição do sofrimento.
    A garota descendo o morro e o arrastar do corpo criaram uma imagem de malemolência que nos remete à questão do negro visto como um sujeito preguiçoso, ou ainda pelo “corpo dentro do corpo” (gravidez/fraqueza/fome)desse dia sem fim.
    Poema com forte apelo social.
    Emocionou-me!

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  3. Felizmente não vivemos essa realidade, ainda que tudo esteja tão próximo...
    Já que ficou revoltada, sem necessidade, permita-me umas dicas:
    “Ode aos Ratos” musica de Chico Buarque.
    Casa-Grande e Senzala Gilberto Freire .
    O povo Brasileiro- Darcy Ribeiro, (a Cultura está exibindo - série- com a participação do Chico, Tom Zé....)
    Bjus

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  4. Valeu Su.
    Mas realmente é complicado esse lance da escrita dentro do que não se conhece. Imagina-se, sabe-se por meio da midia, mas não vive. Que sentimento é esse? Entende?
    Aí a prosa teria que ser de algum meio descritivo, o que eu fui totalmente incapaz na primeira tentativa.
    Bjão... flor.

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  5. Ótimo,querida,optou pelo poema.Perfeito.
    Construiu um poema elaborado,com belas palavras,instigante...
    PARABÉNS!

    Que sentimento é esse?
    Por isso,as dicas: não há como "não sentir" lendo G.Freire e D.Ribeiro.
    obrigada.
    bjão

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  6. O barato foi ... não me reconheço no que escrevi...

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  7. Este texto está realmente demais! Parabéns!

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