segunda-feira, 10 de junho de 2013

Da janela lateral.

Na Fazenda Boa Esperança morava Venâncio um exímio vaqueiro. Era um mulato de alto que veio do Vale do Jequitinhonha para a lida com o gado. Tinha um olhar adormecido de quem guardava alguma tristeza, contraste com o farto sorriso, que sempre trazia no rosto. Nada se sabia de sua vida, além da sua habilidade junto aos animais, que devotavam obediência aos assovios do Venâncio. O homem de mãos rudes acariciava a terra próxima do curral, onde cuidava da pequena horta onde colhia algumas hortaliças. Às vezes era possível ouvir sua voz em canto triste vindo da casa dos vaqueiros, quando a noite baixava sobre a fazenda.

Da janela lateral da casa sempre pela manhã era possível ver a figura de Verônica, uma linda moça nos seus 18 anos de sonhos e fantasias.  Tinha por charme carregar uma flor presa aos cabelos castanhos que desciam sobre os ombros. Tinha um sorriso constante e contagiante como se a vida toda fosse festa e alegria. Cantarolava pelo dia como uma cigarra com suas musicas apaixonadas. Estar na janela pela manhã, era um ritual desta moça, como um encontro marcado. Ali ficava com seu olhar lançado no campo à sua frente. Às vezes furtivamente seu olhar passeava por onde se encontrava Venâncio, parecia que ela se encantava com a presença daquele homem cuidando da horta com tanto carinho e leveza de quem acaricia os cabelos de uma mulher amada. Havia uma ternura neste olhar, mas que logo se perdia no campo.

Certo dia a mãe de Veronica entrou silenciosamente pelo quarto e percebeu uma lagrima no olho da filha, que tentou ocultar com um leve passar de mãos pelo rosto e esboçou uma desculpa para a mãe. Saíram do quarto em silencio. Desconfiada a mãe vigiava movimentos da filha. Não imaginava o que poderia fazê-la chorar, uma vez que sempre se mostrara alegre e cantante, mesmo sem ter um namorado, que era comum na sua idade. Certo é que ela vivia sem traumas ou frustrações, mas agora sabia do seu coração triste. Isto a incomodava, com seu coração de mãe zelosa. 

Numa manhã a mãe se dirigiu ate a horta, para pedir a Venâncio algumas cebolinhas e salsas para usar no almoço. Olhou para a janela lateral da casa onde ficava o quarto da filha e percebeu que ela não estava aberta. Gritou por Venâncio e não o encontrou por perto. Colheu as hortaliças e voltou para casa. Curiosa gritou pela filha e sem resposta foi ao quarto e percebeu a ausência da filha, as portas do guarda roupas abertas. Sentiu um frio cobrir-lhe o corpo e nervosa saiu pela casa. Voltou à casa do vaqueiro e lá entendeu o que tinha acontecido. A filha tinha fugido com aquele vaqueiro por certo o amava escondido por medo dos pais não aprovarem o relacionamento. Em desespero saiu pela estrada que ligava a cidadezinha, quando foi amparada por uma vizinha que a conduziu de volta para casa, enquanto outro vaqueiro galopou para a cidade para encontrar seu marido que estaria no armazém da família. Agora a mãe debruça sobre a janela lateral e seu olhar se perde na estrada.

Toninho

4 comentários:

  1. Lugar comum eu dizer que fiquei emocionada... linda "história",linda imagem. Tudo tão delicado, palavras tão bem escolhidas. A narrativa ,"dá a impressão" que segue lentamente próprio do viver no campo. Coisa boa de ler.Relato tão bem estruturado, "costurado", ameiiiiiiiiiiiiiiii.

    gratíssima amigo.

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  2. Quase me esqueci :o) Lembrou um trecho da musica do Milton Nascimento. "Da janela lateral , do quarto de dormir..vejo um sinal.. Esse mineiros, voticonta. MARAVILHOSOS1

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  3. Oh, querida amiga Sueli a Minas não me larga por mais longe que esteja.Tem sempre uma marca em tudo que faço,rsrs.
    Grato sempre por estar neste espaço cultural como se numa sala de aula,assim que me sinto em cada exercicio.
    Carinhoso abraço de paz e luz.
    Bjo.

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  4. Maravilhoso Toninho! Não conheço Minas, mas acredito que mais mineiro impossível!
    Bem romântico, um amor que supera barreiras só pode ser verdadeiro e duradouro.

    Carina.

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