terça-feira, 12 de julho de 2011

Raízes.


Presos em seus anseios, eles correm, soltos, por medo, o medo de se encontrar.
Encontrar-me, transição impensada. É como se nada se completa, antes que se quebre totalmente. Nos fere, nos destrói, sem pensar. A tristeza corroeu seus tímpanos com límpidas notas de orgulho e saudade. Liberdade. Antes fosse almejada, nos prendemos, aos mais impares desejos. Ele se sentiu passado. Ele se viu futuro. Mas não é presente. Ausente, de pensamentos e momentos. A espera da reciprocidade, infundada! Mas que diabos é isso? Só se sabe que existe. De que vale existir? Sem sentir o tempo a passar. Ele parou de divagar, lembrou-se de que a vida não é de sonhar, colocou-se a dispensar delongas emocionais, e cogitou na idéia de transcrever pequenas idéias. Mas caiu por si a sentir sua vida transcriando momentos de angustia através de papeis, seus vômitos tomando forma. Logo, se viu, inútil. Sozinho, inútil e desprezível. E mesmo assim, foi. Foi, pra onde? Não sei te dizer, mas ele foi, caminhar.
Andou, sim, andou por ai. Subiu até a esquina e correu toda a rua, a chorar, sem saber o que fazer e desesperado procurou o primeiro bar nojento que encontrasse, mas tinha que ser o mais nojento, o mais desprezível e o mais, vazio. Como ele. Mas, covarde, não teve coragem de entrar. Tímido, dos ombros arqueados, desceu a rua a olhar o céu.
Pra que existimos? Divagava a caminhar. Lembrava dos momentos que passaram, e, tropeçava a cada passo na calçada de pedras cor de barro batido. Distraído. Esbarrava em todos, e ficava, mais e mais, arqueado, fechado, recluso.
A solidão é algo terrível, mas temível mesmo, é a reclusão. Impulsivo, ele correu até o parque mais próximo, a praça mais longe ou o gramado menos verde. E se jogou. Na magnífica desolação verde das praças urbanísticas e infestadas de mendigos. Desligou seus suspiros, seus pensamentos. Ligou sua ancestralidade. Mãe terra.
Como num transe, não se mexia, nem um músculo. Parou, respirou. Respirar!
...
Respirou.
E ainda lá, sentia, o corpo-chão, universo. E sentia-se pequeno, mas, presente. Desligou-se da reciprocidade, o universo já lhe cedia isto e ele nem percebia, nunca.
Minutos passaram, horas voaram, meses chegaram. E ele ficou, findou raízes, cresceu. Preso a mãe terra. Sem pensar, sem chorar, sem se distrair com as tristezas mundanas. Em seu tronco-torso, sente, uma mão a lhe tocar. A razão de todo o seu penar, que volta, de repente, para juntar. Mas o corpo-chão, já endurecido por suas cascas, não desprende ao chão.
A mão, lhe pede só mais dois minutos. Sem sinais pra continuar, segue, direto e reto.
O rapaz e suas raízes, se tornam apenas um emaranhado de lembranças, porém isolados. Arqueados, fechados. Galhos e ombros levantados. Pernas cruzadas, sorrisos acanhados.
E ele se vê assim, alheio. Ao mundo que está tão conectado.
(Des)conectado.

4 comentários:

  1. O simples existir e um mar que questionamentos. Belo texto, Márcio.

    PARABÉNS!!!

    BJUS

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  2. Olá, passeando pelos blogs encontrei o de vcs.. adorei o blog. E adorei o conto, é muito comum ficarmos desconectados desse mundo por muitos momentos..

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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