sexta-feira, 30 de julho de 2010

E se me dispusesse ...

Quintana, Mário. A preguiça como método de trabalho. Rio de Janeiro, Globo, 1987.p.93-4.

 O retrato de Eurídice
Não sei por que há de a gente desenhar objetivamente as coisas: o galho daquela árvore exatamente na sua inclinação de 47 graus, o casaco daquele homem justamente com as ruguinhas que no momento apresenta, e o próprio retratado com todos os seus pés-de-galinha minuciosamente contadinhos... Para isso já existe a fotografia, com a qual jamais poderemos competir em matéria de objetividade.
Se tivesse o dom da pintura, eu seria um pintor lírico. Quero dizer, o modelo serviria tão-só de ponto de partida.
E se me dispusesse a pintar Eurídice, talvez viesse a surgir na tela um hastil, o arco tendido da lua, um antílope, uma flâmula ao vento, ou uma forma abstrata qualquer, injustificável a não ser pelo seu harmonioso ímpeto e, câmara lenta, pela graça da linha curva em movimento, porque Eurídice afinal é tudo isso... É tudo isso e outras coisas que só os anjos e os demônios saberão.


A proposta descritiva de Mário Quintana nos proporciona possibilidades sensoriais e imaginativas muito grandes. Observe que o poeta se propõe a utilizar imagens que não têm nenhuma relação direta com o objeto retratado, criando um processo de grande intensidade poética.


DATA DA POSTAGEM- 16/08/2010

PROPOSTAS

Com base no mesmo procedimento da proposta descritiva de Mário Quintana, que imagens você utilizaria para descrever:
    
1-uma mulher de formas suaves e equilibradas.

Ou pode optar

2-um homem de estrutura física bem proporcionada.


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