segunda-feira, 22 de março de 2010

Carta




Oi...

Como tem sido sua vida? Me conta, mesmo que não ache importante.
Mandei arrumar o carro. Ficou bom, você tinha toda razão, estava precisando. Não entendo por que relutei tanto.
Ainda não consegui ler Paixão Segundo G.H. e nem Relatos de um Náufrago, como me sugeriu certa vez. Ainda não me escolheram, mesmo sendo Clarice e Gabo.
Pintei a casa. Laranja. Não como do poema "Impressionista" sempre amanhecendo. Entardecendo. Teria gostado, logo é noite.
Refiz o jardim. Abandonei as orquídea, são melindrosas demais e sou por demais de incompreensiva para com elas. Hoje, cultivo as violetas, a janela da cozinha está florida, elas me dão a chance de acreditar que estou no caminho certo. Se falho, substituo por uma nova, já florida e tenho a impressão de que tudo continua sempre igual.
Ontem encontrei aquele nosso amigo de longa data. Perdemos a intimidade. Senti essa perda, não somos mais crianças. Sabe, chego a conclusão, o tempo realmente passou, assim, feito ventania.
E sigo assim. Como se nada nunca tivesse fim.
Carinho.


PS: As portas continuam sem chaves.

5 comentários:

  1. Odeio ser a primeira a chegar às festas e também a sair delas. Aproveitando o tempinho que deu...

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  2. Catarina,

    Belíssima Carta e Imagem. A mim,deu uma sensação do casa/da aconchego/do lar de vida forte batendo pulsante, da recordação...,e tudo envolvido em palavras bem escolhidas,citações deliciosas de quem é pura sensibilidade.

    Obrigada,por este presente :o)

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  3. Rs... Imagina...
    Porque há a necessidade de dizer que as portas não tem chaves.

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  4. Parabéns Catarina...

    Gostei muito...inclusive da necessidade de lembrar que as portas ainda não têm chaves.

    Belo!

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  5. Catarina, se tivesse recebido esta carta, com este PS,, ou se fosse aquele amigo de vocês de longa data e soubesse que as portas continuavam sem chaves, eu iria correndo te encontrar pra fazer um novo começo. bjs meus.Obrigada por compartilhar seu texto tão delicado

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