terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Recomeços

Lá estava ele em frente ao prédio, do outro lado da rua, pensando se deveria atravessá-la...
Tantos anos haviam se passado, tantas coisas ocorreram, todos estavam diferentes, ele imaginava, mas será que mereceria o perdão deles?
Tinha consciência do quanto seus atos afetaram aquelas pessoas, queridas demais, próximas demais.
Nem sentia-se merecedor de estar alí, tão perto, mas a saudade e o amor por eles falou mais alto, tinha que vê-los, saber deles...
Não...vou-me embora, nem sabem que estou aqui, que já saí daquele lugar horrível, pedi que não avisassem, vou-me para outro lugar, esquecer essas pessoas, não posso mais dar-lhes dor e sofrimento, já fiz o bastante.
Porém, assim como faltava-lhe coragem para ficar, faltava-lhe para ir, queria uma chance de perdão, de mostrar que aprendera sua lição, que tudo ficou no passado e futuro seria bem melhor.
Compreendeu que não conseguiria seguir em frente se não tivesse com aquelas pessoas, precisava dessa paz, de tê-los visto, saber suas reações, mesmo que não fosse como ele gostaria.
Muniu-se de todas as suas forças, finalmente atravessou a rua, chegou ao prédio, tocou levemente o botão correspondente ao apartamento e a campainha, lá em cima brandiu...

Carina.

sábado, 17 de novembro de 2012

O homem atravessou a rua
















Naquela noite de frio intenso, eu seguia pela rua em direção a minha casa no ultimo quarteirão desta. A cidade é cercada por serras e por um rio, que faz maior a sensação de frio. Havia “serração” (densa neblina) que cobria a cidade e deixava tudo translucido. Notei o vazio e silencio das casas sem nenhuma janela aberta para a rua. Parecia noite mal assombrada, destas que contavam na Quaresma. Nem mesmo os cães se ouviam os latidos, nem os gatos ruidosos eram ouvidos. 

A rua era calçada com pedras de minério de ferro, o Itabirito, que com o tempo tornaram-se polidas e brilhantes. Com o sereno noturno brilhavam como fosforescentes. Andar por ela era conviver com escorregões e quedas. Esta rua era um terror para as mulheres com sapatos de saltos finos. Algumas eram habilidosas equilibristas, outras não. Logo torciam pé e sofriam quedas seguidas de risos de transeuntes ao ver a preocupação delas em não mostrar suas roupas intimas. Vale saber que mulher naquela época, só usava longos vestidos e famosas saias plissadas, exceto filhas de fazendeiros, quando montadas em seu seus cavalos, trajavam calças compridas, chapéu e botas longas. Era lindo vê-las com seus cabelos soltos sob o chapéu com um laço vermelho no pescoço.

No final da rua ficava a igrejinha da vila e o armazém da empresa mineradora, logo esta rua tinha movimentação maior, principalmente nos horários das missas, novenas ou das quermesses do ano.  Era uma rua com casas dos dois lados sendo numero par para as casas da direita e impar as casas de fundo para a serra. Tinham mesma arquitetura e todas elas tinham uma varanda pequena ao nível do solo na entrada da casa, que chamavam de alpendre. Eram todas da empresa VALE, nelas moravam somente operários, que trabalhavam na exploração de minério na mina de ferro. As casas que ficavam de fundo para a serra, eram elevadas do nível da rua, tinham muro de contenção, onde eram instalados postes de ferro da iluminação, algumas possuíam escadas de seis a dez degraus. 

Próximo da meia noite eu já estava no alpendre de minha casa e dei uma ultima olhada para a rua, quando um homem atravessou a rua no quarteirão acima, chamava atenção sua roupa toda branca inclusive os sapatos. Era alto e não parecia um morador da rua. Fiquei curioso a observa-lo, mas a distancia e a péssima iluminação não ajudava muito. Quando ele se posicionou sob um poste, notei que era uma pessoa magra, usava óculos. Seu chapéu preto destacava naquele traje branco. Levava na mão direita uma sacola preta e na outra uma espécie de bengala ou guarda-chuva. Ele posicionara em frente à casa do Zé Agripino, parecia estar a conferir alguma coisa, como a ter certeza do que procurava. Vi que ele subiu as escadas e sumiu da visão. Pensei ser um medico para consultar a mãe do Zé, que não gozava de boa saúde, achei estranho um medico naquela hora sem usar carro, mas sentindo muito frio entrei para minha casa.

Pela manhã quando todos esperavam o caminhão, que nos levava para a mina de minério, aproximei do Zé Agripino, procurando noticias sobre sua mãe. Ele relatou que era esteve muito mal na noite passada com uma canseira terrível, parecia que morreria. Mas que próximo da meia noite ela deu um suspiro fundo e todos correram para o quarto, mas ao chegar lá ela estava sentada na cama e rezando e quem ao lhe ver sorriu, pediu um café com bolo e levantou normalmente, como se nada mais sentisse. Eu ouvi tudo, senti um arrepio, mas não disse a ele sobre o homem de branco, que vi subir a escada no horário relatado do tal suspiro fundo. Ele não acreditaria, nem você leitor.

Toninho.
16/11/2012
 ***********************************************
 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Começo da Narrativa


Pensando na história como uma viagem, percebemos a importância do começo da narrativa para provocar o leitor, despertar sua curiosidade, seduzir sua imaginação. Isto posto, como se faz o começo? Muitas vezes, a história começa com a criação de um “clima”, de uma “atmosfera”, para sensibilizar aquele que lê. Pode ser uma “atmosfera” lírico-amorosa, de medo ou de mistério, por exemplo. A criação do “clima”, geralmente, se obtém recorrendo à descrição. Pode-se descrever o lugar, o espaço, o ambiente, ou seja, fazer uma caracterização do cenário onde o caso vai acontecer. Logo nos primeiros parágrafos (AQUI) já observamos, que Eça de Queirós utilizou esse recurso para introduzir a história de seu romance “O primo Basílio”. Primeiro descreveu brevemente o protagonista, depois, o ambiente.

DATA DA POSTAGEM

18/11/2012


PROPOSTA

Começar uma história a partir do mote


"Um homem atravessa a rua..."

Crie uma atmosfera sugestiva, a partir dos elementos narrativos presentes na  frase




Como os escritores aqui são feras. Boa diversão .


sábado, 20 de outubro de 2012

Iniciação


Foi num cinema poeira que achei os cigarros, esquecidos na poltrona ao lado. Não me lembro da marca, mas lembro que o filme era de Flash Gordon. Fumei três seguidos no banheiro acanhado. Um coroa de óculos escuros acendeu pra mim. No mais, só me lembro da tosse, da mão do cara no meu sexo e da nota de dez que ele me deu, depois. Foi assim que, num só día e pela primeira vez, fui fumante e prostituto entre naves estelares e pistolas desintegradoras na face ocidental do planeta Mongo.


Fred Nabhan- poeta (de mão cheia) e ex- integrante do grupo "O Tablado", Foi meu aluno na Oficina em Tatuí. O miniconto é fruto de um exercício proposto em aula.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Elefanta

Acordo mas não quero abrir os olhos.
Melhor seria cegar de vez do que forçar os olhos a não abrirem, sim, porque eles têm vida própria. Querem abrir-se, olhar, perscrutar o ambiente, encontrar essa vida nova que se inicia  depois da noite. Luto com valentia, aperto os olhos até doerem e eu começar a 'ver' luzinhas dançantes. Até de olhos fechados as coisas dançam a minha volta. Eu não quero isso. Quero minha vida regular, exata, de linhas retas. Sou dada às amarguras, tenho um humor amargo, seco, que me aborrece sem salvação além da dança. 
Os olhos começam a piscar insistentemente. Penso num ditado: cala-te, boca! No meu caso, precisaria dizer: fechem-se olhos!, pois já não podia mais contê-los. Abriram-se contra minha vontade. Tudo embaçado. Abro e fecho, abro e fecho, até me acostumar à luz que entra por uma fresta da cortina que, como as luzes das trevas, dançam. Tudo está como antes: gavetas fechadas, roupas guardadas, cortinas corridas, a não ser por esta pequena fresta de luz novidadeira que ora me cega ora me mostra o mundo até que me acostume com ela, e a música do vento. Talvez seja assim a partir de agora, depois do veredicto do médico, dançar somente pelos olhos, abertos ou fechados.

Alguns minicontos


 
Dia do branco.






Toda Sexta-feira Sô Olavo tomava banho com alfazema, vestia sua indumentária branca. Com seu sincretismo seguia para a Igreja do Senhor do Bonfim. Naquela Sexta-feira todos estranharam ao vê-lo seguir sem traje característico. Logo perceberam que havia tido um branco na cabeça.
 **********************************************************
Estranha loucura. 

Joaninha cansada de todo dia varrer o terreiro, por causa dos periquitos e micos que sujavam o terreiro com cascas e folhas. Então ela foi à cidade comprou um motosserra. Agora todo dia de manhã ela liga o motosserra sob as arvores.
**************************************************************

A maldita cachaça. 


Apaixonado pelas canções de Roberto Carlos tomou todas as cachaças do boteco, cambaleou pela rua e caiu. Encaminhou-se para casa, chutou a porta cantando A namoradinha de um amigo meu. Levou um soco no olho e estatelou-se. Só então percebeu que havia chutado a porta casa do seu vizinho Serjão cara de Jumento.
 *************************************************************

Sonhos alado


Sentou na varanda para fugir do calor. Observava um Iguana descendo pela coluna da varanda. Abriu o livro de Kafka e lia avidamente. Cochilou e sonhou. Acordou numa sala de ortopedia.
 **************************************************************
A culpa. 



Sem paciência, numa mochila colocou roupas, cachimbo, um isqueiro, um canivete e R$ 100,00 roubados de seu pai. Colocou o boné do “Chicago Bulls”, foi morar pelas ruas. Um ano depois sentia frio, fome e saudade. Decidiu voltar, mas foi informado, que os velhos venderam a casa, para morar no interior de Pernambuco numa casa de recuperação de idosos alcoólatras.

 ************************************************************
Sueli vai desculpando, mas devido a falta de textos postei os que exercitei.
Para sua sápia observação e orientação.