terça-feira, 23 de agosto de 2011

Piri


Porque a gente combinou de tomar café naquela pequena padaria de Piri à qual nunca fomos juntos, mas fomos em outras andanças, separados, e combinamos de antemão que não teríamos dinheiro para comprar outras coisas senão café, porque nos conhecíamos bem e sabíamos que não teríamos. E também sonhamos que você usaria aquela camiseta vermelha de sempre que tinha a malha boa e não acabava nunca, mesmo muitos anos depois, quando nos encontrássemos naquela pequena padaria de Piri, você ainda a teria e a usaria, embora um tanto que desbotada. “A tinta pode até sair, mas essa malha nunca acaba”, você disse. 

E a noite desmaiava dentro do meu estômago, a gente ora falava, ora só imaginava a pequena padaria como as coisas de Piri, toda enfeitada de doces caros e a gente rindo do pouco dinheiro que tivesse e mal daria para o café. A gente nunca que mudava, se eu estava mudando, era só de lugar, se você ficava, não era por muito tempo também porque a gente nunca que mudava aquele jeito de se mudar sempre, tal cigano. A gente ria na calçada do estrangeiro como riria em Piri, ria da nossa despedida se misturando com as coisas inventadas que estariam por vir. E o medo desmaiava em meu estômago, e se você perdesse a camiseta? E se não desse jeito de ir?

Por quê? Se a gente combinou de tomar café naquela pequena padaria, anos depois, você esteve ali com outra camiseta e outra garota? Por quê? Só para se vingar de mim? A gente estava certo, não estava? a gente nunca que mudava, nunca que deixava de se mudar, a gente nunca que daria certo assim. 

(Mas gosto de imaginar, todos os anos, no dia marcado, que me sento no banco da pequena padaria, peço um café e brindo: à Piri! E você se aproxima, sem um puto no bolso, com uma camiseta vermelho-desbotado e diz: paga um pra mim?)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"De Cheiros e Memórias"

 Cézanne

O cheiro do café. Minha mãe de costas, o perfume que exalava de seus cabelos encaracolados sobre os ombros, seus dedos delicados segurando o coador, coador de pano, e a voz grave de meu pai lendo poemas, são imagens que trago na minha memória, como um filme que fica na nossa mente para sempre. Ainda posso sentir o aroma que impregnava toda a sala.
Eram tardes silenciosas e somente a voz forte de meu pai preenchia todo o espaço. Ele, acabada a leitura, dizia: - é preciso ler também com o coração. Dizia isso com um sorriso largo balançando os ombros, uma mania entre tantas outras de seu jeito de ser. Feito ao poeta, seus ombros não suportaram o mundo. Tão belo, tão jovem.

Cheiro da morte. Morte do corpo. Cheiro da palavra viva que ficou em mim, transformou-se no produto do meu trabalho diário, prazer e alegria das minhas caminhadas literárias.
Outros cheiros seguiram -se a esse como deliciosa madeleine ao destampar o fluxo da memória: - os anos na Universidade, os grandes amigos que lá encontrei, as reuniões de estudo, os debates, as idéias, os livros.
Ato contínuo, memória ativada, sigo de lembranças em lembranças, o bar, o teatro, os envolvimentos, as lutas, o sonho. Filhos, família, nascimentos e mortes. Perdas e ganhos.

E, como disse o grande poeta: -
“De tudo fica um pouco... Fica um pouco de teu queixo No queixo de tua filha. Do teu áspero silêncio, um pouco ficou, um pouco... Se de tudo fica um pouco Mas porque não ficaria um pouco de mim? No trem que leva ao norte, no barco ,nos anúncios de jornal ,um pouco de mim em Londres, um pouco de mim algures?...”C.D.

Em mim, esse pouco se agigantou e, às vezes, sou toda memória.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sociedade Secreta




          Desde cedo ela sabia ser diferente.
          Enquanto criança brincava como qualquer outra criança de todas as brincadeiras de criança, conhecia todas as brincadeiras de roda, pique-esconde, polícia e ladrão, pega-pega. Diferentemente das outras meninas topava todas as brincadeiras tipicamente de meninos também e não admitia ser tratada diferente, empinava pipas, jogava bola, nadava em rios.
          Ela teve a sorte. Cresceu livre. Correndo em pastos, nadando em rios e subindo em árvores.
          E mesmo assim ela ainda sabia ser diferente.
          Certa vez a título de conseguir uma arma para domar os filhos em horas de aperto a mãe contou a história de um tal de "Homem do saco". Esse homem era um andarilho, não tinha casa, vivia sujo, barbudo e com os cabelos todo desgrenhado. O "homem do saco" era um homem mau, ele pegava as criancinhas que não se comportavam bem e enfiava-os dentro daquele saco. Nunca mais se tinha noticias da tal criança.
          Ao se deitar a menina ficou pensando no que tinha feito durante o dia, será que teria se comportado bem? Ouviu um barulho do lado de fora da janela. O que seria aquele barulho? Já era tarde a casa toda estava escura. Todos estavam dormindo. Acordou o irmãozinho e ambos foram olhar por entre os vãos da janela.
          O medo consumia, tremia, suava, o coração batia descompassadamente e chegava a ouvir o seu som em meio ao silencio mortal que habitava a casa. E lá estava ele. O temível "Homem do saco", em carne, osso e saco. E olhava para ela do outro lado da janela como se pudesse vê-la. E a menina observou, apavorada porém a curiosidade era maior e aos poucos o "Homem do Saco' foi ficando menos assustador e até um pouco mais simpático. Talvez ele não fosse tão ruim assim...
          Do muro no fundo do quintal que dava para um pasto, conseguia-se enxergar um córregozinho, certa vez, depois de um pé-d'agua passageiro, o sol estava de volta e um arco-íris riscava o céu, a mãe dizia que lá no pé do arco-íris havia um pote de ouro guardado por duendes. Correu para o quintal, virou uma lata de ponta cabeça, subiu sobre ela e ficou contemplando o córrego, lá, era lá o final do arco-íris. E lá estava o pote de ouro, ele era grande, e irradiava uma luz amarela e seus guardiãos estavam todos apostos, guardando seu valioso conteúdo. Ao redor do pote existia uma pequena cidade. Ah essa cidade provavelmente só aparecia em dias de chuva. Era como a névoa.
          Sua imaginação vagou, sem rumo, sem porto, sem limites e de um salto já era adolescente.
          E nessa fase acreditou nos príncipes, esses se transformavam em sapos. E logo depois outro se apresentava, outros castelos se criava e mesmo com toda a semelhança com as outras sonhadoras, a menina moça ainda assim era diferente. Sua dor se confundia com a dor de suas personagens favoritas.
          Passaram-se os anos e de sonhadora encontrou sua diferença em mulheres fortes e encontrava seus ideais em novas filosofias, e o abismo abria-se cada vez mais.
          Certa ocasião acreditou que o problema era ela.
          Somente ela conseguia ver beleza traduzida em palavras nas coisas mais banais, ninguém mais parecia notar o que a encantava.
          E a mulher que quando menina viajava nas leves asas da imaginação hoje estava acorrentada dentro de si própria. Converteu em silêncio tudo o que  tinha a dizer.
          Os livros traduziam esse silêncio, supria suas carências e era sua companhia constante. E com os livros começou a conhecer sua diferença e acalentar a idéia que talvez pudesse encontrar seus semelhantes.
          E  conheci o significado da diferença.
          Os amantes dos livros, das histórias e das palavras formam uma sociedade secreta. E seus membros se reconhecem onde quer que estejam.

sábado, 13 de agosto de 2011

Aquela tarde

Com toda a ansiedade que uma alguém de 7 anos pode ter, esperava minha mãe terminar de se arumar para cumprir a promessa de irmos ao cimema naquela tarde de domingo. Iríamos assistir ao fenômeno do momento... E.T.
Todos prontos, pegamos o ônibus que nos levaria ao destino.
Colocada no banco, com todo o carinho que uma mãe de filha única pode ter, aproveitei a viagem, pois sabia que uma próxima poderia demorar, afinal, cinema para nós era luxo.
Chegamos, fila para bilhetes, pipoca e refrigerante, coração batendo forte!
Filme começa... emoção inesperada...eles não falam a minha língua!! terei que ler legendas, e consigo sem problemas, já leio "corrido" como dizia minha avó, e não apenas palavras soltas.
Quanta emoção e orgulho próprio, além é claro de toda a beleza da estória apresentada.
Saio do cinema dizendo "Where stays México?" repetindo a pergunta que a pequena Drew faz à sua mãe sobre o paradeiro do pai.
Depois fomos tomar um lanche na clássica Pastelaria Chinesa, repetindo frases do filme.
Foram tantas surpresas... conhecer uma língua nova, saber que já lia sem problemas, rimos e choramos juntas naquela tarde inesquecível.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O homem que amansava animal.











Imagem Google



Aquele homem franzino, com suas esporas sempre vistosas sobre aquelas botas longas, era o mais ágil e valente daquela região. Seu nome era Venâncio, um negro criado lá pelas bandas do Furtado entre Itabira e Santa Maria, isto lá nas Minas tão Gerais, um lugar largado numa grota, serpenteados por um córrego de água frias onde se podiam pescar vários peixes como: Bagres, Lambaris, Mandis e Traíras.

Assim nasceu e viveu ali este homem entre todos os tipos de animais. Já criança tendo como companheiros velhos amansadores de animais, vaqueiros e lavradores. Quando sol se fazia presente, ele já estava na roça com seu ginete a campear as vacas para a ordenha. De posse de uma caneca de ágata verde já descascada em varias partes.Dentro desta, colocavam rapadura raspada e mais uma composição em pó guardada a sete chaves, ensinada pelos vaqueiros.  Era o  ritual matinal tomar uma caneca do primeiro leite com esta mistura, seguindo orientação dos vaqueiros, pois que assim procedendo, seria um dos mais importante e valente vaqueiro amansador de animais bravos, a quem todos os animais se reverenciariam.

Certa vez em suas prosas e causos de assombrações, ali junto ao fogão de lenha à espera de um mingau de milho que fervia numa panela preta de ferro, ele segredou. Dizendo que seus pais disseram, que quando ele veio ao mundo, foi lavado com sangue de tatu, pois assim se acreditava naquela época e região, que este ato, lhe faria uma pessoa protegida de todas as doenças e maldades do mundo, assim tipo corpo fechado. Assim era o Venâncio uma pessoa destemida, uma pessoa boa, o amansador oficial de animais. Era emocionante vê-lo em ação devido sua habilidade sobre aqueles animais, que se quedavam sob suas ordens.

Hoje lembro claramente daquele momento, era um domingo, toda meninada da rua sobre os muros das casas para ver aquele homem e o animal, como nas grandes touradas. Ele recebeu o animal e lentamente com numa conversa silenciosa com a criatura, ele ia aos poucos colocando as montarias e vez ou outra o animal mostrava repulsa, bufava e se empinava nas pastas traseiras, o que era motivo de festa e medo da criançada. Num instante de pura magia e concentração, ele chegou bem junto ás orelhas do animal, parecia um ritual de oração entre ele e a criatura. Alguns presentes diziam que era uma reza brava, que os piões tinham para esta arte, foi um momento que o silencio imperou total naquela rua. Num lance rápido o Venâncio se jogou sobre o cavalo e os dois encenaram a mais linda dança, varrendo todo salão digo rua com suas manobras arriscadas junto ás cercas e muros das casas. Aos poucos o animal foi cedendo e ele orgulhoso vitorioso apeou do cavalo que estava totalmente molhado e calmo.

 Ainda hoje me lembro deste tio e suas manobras. Assim movido pela curiosidade, muitos anos depois em conversa com o tio Venâncio, ele não sabia dizer sobre a mistura usada naquele leite pelas manhãs. Mas o que ele rezava para o animal naquele silencio profundo, era uma oração que dizia assim: 

- “Santo Antonio pequenino amansador de burro bravo, amansa esse burro para mim, que é mais bravo do que o diabo. Que fique imóvel debaixo do meu pé esquerdo. Amém”.

Uma homenagem a um tio que já mudou de plano para novas jornadas.

Toninhobira

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Carta



Lembro bem de quando o vi, naquela manhã de sábado.
Eu o vi ali, sentado,absorto...
Ele estava bem vestido, usava uma calça cáqui, camisa listrada, uma boina. Magro, estatura mediana.
Devia ter mais ou menos uns 70 anos.
E escrevia uma carta.
Em volta havia muito movimento de pessoas que, como eu, deixaram para resolver seus problemas na última hora.
E ele parecia uma ilha ali, em volta dele me dava a impressão que até o ar parava.
E ele continuava escrevendo.
O quê ele escrevia? O que motivava tanta concentração?
No auge da curiosidade, olhei para a carta e no topo estava escrito assim:

'Minha Querida
Estou escrevendo para saber se você está bem'

 
Virei os olhos rápido, me sentindo péssima por ler correspondência
alheia, mas por dentro, algo gritava pra saber quem era essa querida.
Uma filha, neta, uma amiga, uma amante?
E ele continuava escrevendo.
Alheio a mim, alheio a tudo.
Não sei explicar o que tanto me chamou a atenção naquele senhor, se por ele estar escrevendo uma carta,
algo raro nesse mundo digital,
ou talvez fosse todo o sentimento que emanava dele, pois, logo que acabou a carta,
vi escrito assim:

'Não sei se já encontrou outra pessoa, mas só queria que soubesse que ainda penso em você,
e sempre te amei'

Ele fechou o envelope, entregou no guichê e, pegando sua bengala, partiu.
Me deixando ali, com uma esperança inexplicável na humanidade
E um delicioso sabor de poesia na boca.



VINTE ANOS DEPOIS



Mas o que aconteceu? Perguntei, enquanto Dona Yole ia contando os fatos que culminaram com a tragédia. O que sabia sobre os suicidas? Nada. A não ser o que Dante Alighieri havia escrito em sua “Divina Comédia” onde ele colocou os suicidas no segundo recinto do sétimo círculo infernal, transformando em espécies de árvores, eternamente dilacerados pelas harpias, monstros fabulosos, com rosto de mulher e corpo de ave de rapina. Procurei as palavras, as palavras certas para dizer que não iria, procurei uma raiva por essa covardia maldita, mas não encontrei nada. Abaixei os olhos enquanto dizia: “Conta comigo” Na realidade eu dizia: “Eu farei isso, especialmente por você, minha amiga, porque você significa muito para mim”.

Sentei na cadeira ao lado da cama e olhei o rosto daquela mulher que dormia. Senti uma angústia muito grande, em parte pelo seu trabalho, pelos seus filhos, pela importância que um dia ela teve em minha vida e por estar desperdiçando a sua vida. Para ela dava no mesmo que as pessoas rissem ou ficassem zangadas com ela. Talvez agisse como fez um dia, tentando convencer a mim e a Damião, dizendo: “Todos vocês estão enganados, vocês são dois ultrapassados, eu tenho coragem e estou atualizada dos fatos”. E vi ódio chispando dos seus olhos e senti que num instante algo explodiria, mas então a via refrear-se e todo o seu corpo parecia emitir faíscas, mas não palavras... Olhei-a buscando sinais disso em seu rosto.
O que houve com você? Onde esta aquela mulher corajosa? Sempre que me sinto desanimada e sem esperança e em você que eu penso. Eu e você subindo e descendo as montanhas de Monte Verde, rindo, contando histórias e depois deitando o corpo cansado no alto do pico do selado ficando ali até anoitecer procurando Andrômeda, Cassiopéia, o Cruzeiro do sul e o planeta Vênus sempre a leste na direção da sua casa no meio do vale...  Aconteça o que acontecer eu voltarei para te buscar, disse a ela, enquanto me agarrava ao mato tentando alcançar a estrada.

É preciso tomar muito cuidado, disse Damião naquela tarde. Esse caminho para Campos do Jordão é usado somente por motos e Jeep com homens no volante, é uma estrada de difícil acesso, esta cheia de buracos e escorregadia devido às chuvas dos últimos dias. Não importa, disse Pauline. Todos os dias vejo jeep e motos chegando, nos iremos e voltaremos amanhã a tarde – disse isso sentando ao meu lado. “Nós”, isso era o bastante, pensei. Ela sempre fazia coisas ao seu modo.

Não voltamos na tarde seguinte e nem na outra. Já tínhamos percorrido um longo trajeto e uma chuva fina caia. Pauline não viu o buraco e então o Jeep tombou lentamente e capotou uma duas vezes ouvi o barulho de galhos quebrando, vidros quebrados, óleo derramando. Procurei por Pauline e não a encontrei, procurei ouvir sua respiração não ouvi barulho algum. Arrastei-me até o início do barranco segurando no mato muito assustada. Devia ir procurar ajuda. Resolvi seguir em frente, ao dar o primeiro passo cai numa poça de lama, minha calça ficou toda encharcada. Não devia andar muito rápido para não gastar as energias, e também porque não conseguia enxergar um palmo a frente do nariz. Tremendo ante a ideia de que estava sozinha no meio do mato, correndo perigo de ser atacada por algum animal selvagem esfreguei minhas mãos para ativar a circulação e cambaleando segui. Algumas vezes engatinhando, com as mãos no chão para saber onde pisava, eu avançava com uma determinação que me surpreendia. A noite avançava... Os únicos ruídos eram da chuva que caia, do meu pensamento e da minha respiração. Então por sobre esses ruídos, outro som, mais alto começou a crescer, constante e pleno. Era magnifico! O latido de um cachorro. E mais a frente à estrada começou a ficar mais firme, e as árvores foram se tornando mais escassas, então avistei uma luz e uma casa. Não foi tão difícil quanto imaginei. Com  uma explosão final de energia cheguei até a porta. Bati, bati... Um senhor veio atender. Ele me examinou, toda molhada e suja. Eu me mexi tentando ocultar a calça rasgada. Então pedi a ele que socorresse Pauline, que um jeep havia caído num precipício e havia uma pessoa debaixo dele. Ele ouvia sem compreender, dizendo para falar com calma. Lá em cima... Na serra... Cansada demais para pensar, afastei-me quase caindo. Levei a mão na cabeça e novamente pedi: por favor, preciso de um telefone, minha amiga Pauline esta lá em cima machucada... Então não aguentei mais e comecei a chorar e não conseguia mais conter as lágrimas. Ele chamou sua mulher e num tom mais delicado, disse às palavras que eu estivera esperando a noite toda para ouvir: “Fica com ela, vou até a  cidade procurar ajuda!” Pauline foi localizada. Havia escoriações por todo o corpo e uma perna quebrada. O jeep foi retirado por um guindaste. Algum tempo depois Damião nos levou para ver o local. Uma árvore caída havia impedido o jeep de cair num enorme precipício.

O que se passou com você no fundo do seu coração? Está tudo escondido atrás desse rosto tão tranquilo semelhante à máscara. Meus olhos acompanham o movimento da colcha e as sombras do quarto sobre o seu corpo. Você ficará bem, pensei. Olho a cidade lá fora, tudo está em silencio, poucos carros circulam.  Notei que agora podia ver a lua saindo atrás do prédio em frente, e, enquanto olhava esse mundo, as vozes chegavam muito estranhas...

Não sei mais muita coisa daquele tempo. Evito a todo custo retornar para aquelas montanhas. Damião e o pai de Pauline estão enterrados no pequeno cemitério da cidade. A linda casa no vale foi vendida e o Jeep  vendido a um jovem que durante longo tempo levou turistas até o início das trilhas. Procuro na minha mente o nome do homem que me socorreu e o nome da cidade, não encontro nada, tudo está encerrado do lado de fora das vidraças.

Márcia Lailin

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Gênero Memórias

Edward Hopper

Etimologicamente, “recordar” vem de re + cordis (coração), significando, literalmente, “trazer de novo ao coração algo que, devido à ação do tempo, tenha ficado esquecido em algum lugar da memória”. Podemos dizer que, em linhas gerais, é exatamente essa função de um texto do gênero Memórias.

Lendo o texto de Rubem Alves, AQUI, verificamos que há dois tipos de memória.  O autor destaca a importância das duas, mas tece uma bela e poética distinção entre elas.   E a proposta do exercício é exatamente recorrermos a essa memória e nos alegrarmos com o vivido ou o presenciado.
 

DATA DA POSTAGEM 25/08/2011

PROPOSTA


Busque na memória algum fato que tenha vivido e que de alguma forma seja prazeroso recordar, escrever, contar ou se preferir, relate algo vivido por outra pessoa e que ficou marcado em sua memória.