segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Uma conversa puxa outra... Uma idéia. ...

Meus agradecimentos à Veroca ,queridíssima,que sugeriu a criação  do BLOG,
(a grande mentora)

Uma coisa chama outra já dizia minha avó. E não é que ela estava mesmo certa. A coisa aconteceu assim mesmo meio que por acaso. Bem, não vamos começar com essa coisa de: “O que tem que acontecer acontece”. Isso dá pano pra manga. Essa era outra coisa que minha avó também vivia falando pelos cantos da casa enquanto cuidava de tudo. E como cuidava. Não sei por que, mas hoje ela não me sai da cabeça. Vai ver é porque era uma pessoa generosa, cheia de boas idéias, semelhante a essa “moça” que conheci AQUI  e feito minha avó é pura generosidade.
O fruto desse carinho todo se concretizou "E FICOU LINDO" agora é só cuidarmos, colocarmos nossas idéias, de outros...outros e muitos...
Sermos generosos... saudade da minha avó

publicado no Oficio de escrever
quarta-feira, 4 de novembro de 2009

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Linha tênue.


A equipe passa rápido, logo em seguida, alguém empurra a maca. Sentada ali na sala de espera. Nem sabe ao certo a espera do que. Lembrou-se do passado. De quando em frente ao espelho "maquiava-se". Da vida agitada e entediante. Da vida agitada e interessante. Apenas um vacilar, um vacilar e tudo estava por um fio. A vida e a morte estavam ali face a face. E ela sentada a espera de algo. Três horas da madrugada foi o momento em que entrou por aquela porta. Um pouco embriagada acreditava. Bastante embriagada reconhecia. Extremamente embriagada admitiu!!! Na maca o tecido branco tornou-se vermelho. Cadê a equipe que não traz noticia? Lembrou-se do dia seguinte. O jornal estamparia na primeira capa: Acidente trágico. Vítima fatal! Vitima e fatal! Dois bons motes para se virar matéria de jornal. Bobagem, no jornal a escrita dela não teria espaço. Espaço no jornal só mesmo se a noticia for de morte. E ninguém vem lhe trazer a noticia que espera... Morreu, não morreu, ainda existe? Ainda existe, nessa sala, uma coisa que ronda os seus pensamentos. Como pôde ter feito aquilo? Essas roupas brancas levam-na a pensar coisas obscuras. Sim, ela sabe que é paradoxal. Mas, essas roupas brancas (nem tão brancas assim), visto que viu umas enfermeiras com umas camisetinhas bem amareladas. Teve vontade de dizer para “botar” de molho na cândida. Mas veja se são horas para se pensar nesse assunto? Veja se são horas para se pensar nas escritas dos jornais? Veja se são horas para se pensar em alguma coisa? Sentia-se lúcida. Ao mesmo tempo bêbada, pois só conseguia proferir pensamentos incompletos. As ideias dançavam e cintilavam em seu cérebro... uma euforia atraente.

Sete da manhã ainda a espera. Um café bem preto, bem forte, vai bem! Esse preto do café confunde ainda mais suas ideias. - Mais um café. - Tem com rum ou com vodka?

- Não . Isso aqui é um hospital!

12h. Tocam as badaladas. E ela aqui desde a ultima balada. Lá vem o medico.

- e aí Dr?

- Dr...? Tem certeza? Largue o café. Você precisa mesmo é de uma boa dose de glicose e na veia! Ao sair da sala sentiu que a espera...Essa espera...Esse local...Esse branco...O preto...As cores..Os pensamentos... O estresse...A embriaguez...Tudo isso acabaria em breve. Apenas uma dose de glicose e tudo isso ia para o espaço. Correu...Fugiu...Gritou... Xingou... Jogou a xícara no chão!

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Só souberam dela pela foto estampada no jornal. O título dizia: - Mulher descontrolada e embriagada faz escândalo!!!

Ao ler a noticia, riu. Riu escandalosamente. Imaginou como seria se eles soubessem que ela não tomava nunca em hipótese alguma, bebida alcoólica? Continuou a admirar sua foto.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A queda diante da lei


De vida medíocre, nada de extraordinário me aconteceu. Minto, afinal, escrever é mentir -- elegantemente, óbvio. Nada de extraordinário até uma conversão proibida à esquerda: não sinalizei com seta, esqueci os retrovisores, não reduzi a velocidade. E também não precisava ter virado logo ali. O certo é que colidi com uma motocicleta, embora não tenha parado de cantar o refrão de "Nobody knows you When you're down and out".
Fui então conduzido à delegacia, para o registro da ocorrência. Entre pequenos furtos, uma briga de ex-casados, um adolescente e a diretora de sua escola, um patrão agredido pelo estágiário, entre tudo isso ouvi "terá de aguardar o escrivão". Eu ri, mas conservei a face séria. Assumindo a inexatidão da minha perícia ao dirigir meu popular (vê-se que mentir é escrever) não tive outra solução: cruzei as pernas, rememorei Bessie Smith e esperei. Passavam pernas fardadas, pernas enfaixadas, pernas com passos titubeantes -- talvez de algum algemado --, pernas bonitas, magras, gordas, brancas pretas amarelas. Meu coração não perguntou nada: "Nobody wants me round their door", cantava a rouca voz daquela negra e eu simplesmente acompanhava com o pé.
Perdi a noção de tempo (veja a mentira que é escrever!), mas continuei ali. Minha vista foi cansando daquelas lâmpadas fluorescentes, daquele constante murmurinho entrecortado por sirenes, lamentações e suplícios. Percebi que, aos poucos, meus cabelos foram tornando-se raros e, quando conseguia sentir uma mosca incomodando, meus movimentos faziam saltar fios brancos da minha cabeça. Abandonei os sapatos visando descanso: enfraqueci, é claro. A calça, dobrada até os joelhos, mostrava uma perna de onde pendiam peles ressacadas, como um tecido amarrotado depois de um longo dia de trabalho. E o jornal em que li a morte de um motociclista depois de um acidente com um carro datava de dezesseis anos atrás. A redação da notícia, imprecisa pela sanha de veracidade, dizia que o motorista do auto havia "evadido do local sem prestar socorro". Dada minha condição, não vejo opções a não ser acatar -- hoje sou um indiferente espectro na sala de espera de uma delegacia qualquer.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A ânsia da idade

Ansiedade. Por quê isso agora? Porque não domino a arte de usar porquês? Embora escreva, ainda não sei ler, ou seria o inverso, ...possivelmente. Despir-me-ei de qualquer complexo do uso da linguagem e narrar-vos-ei-te meus calabouços de escritor falido e louco. Falido de nascido, e louco por maioria de votos. Aqui nesse banco de praça, ou seria a beira de um vulcão extinto? Instinto, é o que me faz escrever embora esteja eu a beira de um surto de genialidade. Sim porque para mim, o que virá vai me fazer bem, vai me trazer paz... vai me fazer enxergar,... as coisas como os outros não vêem, veem..? E quando eu enxergar tudo bem certinho, todos vão dizer que fiquei cego, mas na verdade mudo ficarei, me calarei para que não zombem de mim...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"À queima roupa"


 Nesse momento olho-a fixamente. Alheia a tudo  ela não se dá conta, não me vê  não enxerga. É como se uma nuvem de fumaça existisse nessa ousada troca de rápidos olhares. Contraio os lábios num quase sorriso, e sutilmente escondo a imensa necessidade de perguntar-lhe:
— Como vai ?  De falar-lhe:
— A lua está tão linda.
Seu olhar perplexo me confunde. Desisto. Quem sabe amanhã. Um outro olhar, mais demorado, uma piscadinha, uma cumplicidade, ou até, quem sabe, um sorriso mais largo, frouxo, debochado. Por quê, não?
E eu vestida de coragem à queima roupa, pergunte-lhe
— O porquê de tanta distância. E feito criança mostre -lhe uma borboleta.  E ela cheia de vida:
—Linda, é azul. Voou.
Mas é só uma possibilidade. Nem um som sai de sua boca. Silêncio absoluto.
Com o olhar marejado de lágrimas olhamo-nos fixamente.
Nesse momento uma  infinita vontade de passar-lhe a mão pelos cabelos. Niná-la. Mas, não.
Então, abro lentamente a gaveta e guardo, mais uma vez, o espelho.