Na
Fazenda Boa Esperança morava Venâncio um exímio vaqueiro. Era um mulato de alto
que veio do Vale do Jequitinhonha para a lida com o gado. Tinha um olhar
adormecido de quem guardava alguma tristeza, contraste com o farto sorriso, que
sempre trazia no rosto. Nada se sabia de sua vida, além da sua habilidade junto
aos animais, que devotavam obediência aos assovios do Venâncio. O homem de mãos
rudes acariciava a terra próxima do curral, onde cuidava da pequena horta onde
colhia algumas hortaliças. Às vezes era possível ouvir sua voz em canto triste
vindo da casa dos vaqueiros, quando a noite baixava sobre a fazenda.
Da
janela lateral da casa sempre pela manhã era possível ver a figura de Verônica,
uma linda moça nos seus 18 anos de sonhos e fantasias. Tinha por charme carregar uma flor presa aos
cabelos castanhos que desciam sobre os ombros. Tinha um sorriso constante e
contagiante como se a vida toda fosse festa e alegria. Cantarolava pelo dia como
uma cigarra com suas musicas apaixonadas. Estar na janela pela manhã, era um
ritual desta moça, como um encontro marcado. Ali ficava com seu olhar lançado
no campo à sua frente. Às vezes furtivamente seu olhar passeava por onde se
encontrava Venâncio, parecia que ela se encantava com a presença daquele homem
cuidando da horta com tanto carinho e leveza de quem acaricia os cabelos de uma
mulher amada. Havia uma ternura neste olhar, mas que logo se perdia no campo.
Certo
dia a mãe de Veronica entrou silenciosamente pelo quarto e percebeu uma lagrima
no olho da filha, que tentou ocultar com um leve passar de mãos pelo rosto e
esboçou uma desculpa para a mãe. Saíram do quarto em silencio. Desconfiada a
mãe vigiava movimentos da filha. Não imaginava o que poderia fazê-la chorar,
uma vez que sempre se mostrara alegre e cantante, mesmo sem ter um namorado,
que era comum na sua idade. Certo é que ela vivia sem traumas ou frustrações,
mas agora sabia do seu coração triste. Isto a incomodava, com seu coração de
mãe zelosa.
Numa
manhã a mãe se dirigiu ate a horta, para pedir a Venâncio algumas cebolinhas e
salsas para usar no almoço. Olhou para a janela lateral da casa onde ficava o
quarto da filha e percebeu que ela não estava aberta. Gritou por Venâncio e não
o encontrou por perto. Colheu as hortaliças e voltou para casa. Curiosa gritou
pela filha e sem resposta foi ao quarto e percebeu a ausência da filha, as
portas do guarda roupas abertas. Sentiu um frio cobrir-lhe o corpo e nervosa
saiu pela casa. Voltou à casa do vaqueiro e lá entendeu o que tinha acontecido.
A filha tinha fugido com aquele vaqueiro por certo o amava escondido por medo dos
pais não aprovarem o relacionamento. Em desespero saiu pela estrada que ligava
a cidadezinha, quando foi amparada por uma vizinha que a conduziu de volta para
casa, enquanto outro vaqueiro galopou para a cidade para encontrar seu marido
que estaria no armazém da família. Agora a mãe debruça sobre a janela lateral e
seu olhar se perde na estrada.
Toninho
Lugar comum eu dizer que fiquei emocionada... linda "história",linda imagem. Tudo tão delicado, palavras tão bem escolhidas. A narrativa ,"dá a impressão" que segue lentamente próprio do viver no campo. Coisa boa de ler.Relato tão bem estruturado, "costurado", ameiiiiiiiiiiiiiiii.
ResponderExcluirgratíssima amigo.
Quase me esqueci :o) Lembrou um trecho da musica do Milton Nascimento. "Da janela lateral , do quarto de dormir..vejo um sinal.. Esse mineiros, voticonta. MARAVILHOSOS1
ResponderExcluirOh, querida amiga Sueli a Minas não me larga por mais longe que esteja.Tem sempre uma marca em tudo que faço,rsrs.
ResponderExcluirGrato sempre por estar neste espaço cultural como se numa sala de aula,assim que me sinto em cada exercicio.
Carinhoso abraço de paz e luz.
Bjo.
Maravilhoso Toninho! Não conheço Minas, mas acredito que mais mineiro impossível!
ResponderExcluirBem romântico, um amor que supera barreiras só pode ser verdadeiro e duradouro.
Carina.