No caminho passou de tudo fome, frio, medo e algo que nunca tinha experimentado em toda sua vida: — tristeza. Uma dorzinha aguda que começava nas costas, se é que podemos chamar de costas, e culminava forte no coração mudando seu ritmo natural e descompassando todo seu ser. O rabo pendia e, Piloto sentia todo seu peso que quase tocava o chão. Mas nem por um momento pensou em desistir de sua busca. Há tempos que partira da velha cidadezinha abandonando aquele que tinha sido seu verdadeiro companheiro, e, agora de volta era preciso percorrer cada beco, cada praça, cada cantinho e ,quem sabe, por conta do inexplicável , esse mistério do encontro, traria ali na sua frente seu dono.
Um cansaço tomou conta do seu corpo, relembrou todo o trajeto percorrido, e das crueldades sofridas – pedradas- chutes, empurrões, mas era um cão otimista, de bem com a vida=. E a última imagem que tinha na mente era a de um sujeito que o protegeu da chuva, abaixando-se delicadamente com o guarda- chuva aberto sobre ele. Essa imagem encheu-o de coragem e mais uma vez ele acreditou na possibilidade do reencontro. Foi com esse pensamento que Piloto avistou no finalzinho da rua poeirenta seu antigo dono, sabia que era ele, sentiu seu cheiro inesquecível, reconheceu a capa preta que servia de manto pra ele nas noites que ambos saiam para passear. E com o coração em disparada e o rabo numa demonstração de alegria, no seu muito balançar, correu ao seu encontro,pois tanto um quanto o outro nunca esqueceram da arte de viver .