segunda-feira, 31 de maio de 2010

Transitoriedade

Um homem passou ao meu lado
na noite barulhenta.
Era noite, em Londres, em Madagascar,na América.
Era noite em mim.


Era um quase esbarrão,
era o choque, o não romântico,
era antes a crispação
de um desejo súbito:Imperioso


Era o instantâneo erótico,
era o talvez nunca.
Para onde iria fugidia beleza
Daquele olhar que me fez renascer?


Ousada toca de olhares anônimos.
Transitoriedade,

cidade,
noite.

 
  

Memórias de um carnaval

E eis que o carnaval acabou
E uma dor quase física
Tomou conta do meu coração

Ontem, eu fui feliz
Gente... muita gente...
Bagunça, confete e serpentina
Cabelo emaranhado, corpo suado
Samba no pé, extrema euforia
Tudo era festa... Tudo folia...

E eu naquela alegria
Contagiava a todos
Arlequins, pierrôs e colombinas

E eu cantava...
Sambava...
Rodopiava...
Pulava...
Amava...
Beijava...
E não me cansava

Para mim, não existia
Nenhuma sombra de tristeza
Pois tudo era uma beleza...
Ao desfilar na passarela
Com a fantasia amarela
Cantando desenfreadamente
Ao lado de muita gente
Que brincavam alegremente

Abriam alas a minha passagem
Jogavam flores na carruagem
E aplaudiam as minhas micagens

Finalmente
A Quarta-feira de Cinzas chegou...
Tudo acabou...
Minha alegria me abandonou
Minha voz emudeceu
Meu sorriso se apagou
Meus olhos não mais brilharam
Não ouviram o meu cantar
A ilusão se foi...
E o meu pobre coração
Com um dos pierrôs, folião...
Ficou...



Santiago Ribeiro

domingo, 30 de maio de 2010

Aviso da Lua que menstrua

Ah Su queria postar aqui um monte de coisas... quanto mais me afasto da poesia mais atrelada a mim ela fica.
Atitudes poéticas, difícil dizer o que pode ser poesia para cada um, é tão subjetiva que o objetivo pode parecer poético.
Eu me encanto com tudo, um dos motivos pelo qual não dirijo. Sou incapaz de me manter focada em algo, me encanto com o caminho. Com gestos, com palavras ditas ao acaso, me encanto com um sorriso escondido nos lábios quando não era para ser notado. Ultimamente dei de me emocionar com a beleza. Mesmo quando ela não é para ser beleza e lá no fundinho eu encontro, ou junto todas as palavras e encontro beleza lá... me emociono de verdade, choro a cântaros, mas tudo bem, faz parte do ofício.

Então gostaria muito de colocar algo meu aqui, mas... o meu é tão eu... que me impossibilita de dizer então coloco Elisa Lucinda. Como adoro ver essa mulher... Adoro o que escreve... E ilustra um pouco do que disse acima....


Aviso da Lua Que Menstrua

Elisa Lucinda

Composição: Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. de leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

"As Atitudes Poéticas"

Segundo Ezra Pound, aqui , a linguagem se carrega de significados principalmente de três maneiras:

● Induzindo correlações emocionais pelo som e pelo ritmo
●Trazendo um objeto para a imaginação visual
●Produzindo associações emocionais e intelectuais

Esses procedimentos não são usados separadamente. Todos eles contribuem para a significação do poema.
O poete é um inventor que usa palavras.

“Compreendi [...]que a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com idéias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações de palavras onde há carga de poesia”
(Manuel Bandeira, ‘Itinerário de Pasárgada’, in ─ ,Poesia completa e prosa, p.40.

DATA DA POSTAGEM- 31/05/2010

PROPOSTAS
1-Escreva um poema de sua autoria

Ou pode optar pela proposta

            2-Escreva um poema do seu poeta preferido
 
 

"A imagem poética"

Biblioteca/Sorocaba
Rua Da Penha

domingo, 16 de maio de 2010

Giz Caucasiano


Riscos de giz ao chão, definem sua vida, sua estrada, seu caminho está ali guardado num emaranhando de lembranças, que nem sequer sabemos ao certo o que foram. Riscos de giz ao chão, demarcam um mundo onde cada um viveu e vive, mostra um mundo único, onde cada um reside, eu no meu mundo e você no seu, que entram em colapso, a partir do momento em que os riscos de giz ao chão, brancos, esfumaçados, concretos, se tocam e sua linguagem, clara e objetiva, demonstra a tudo e a todos de forma inteligível o que nosso pensamento inconstante e nossas lembranças conseguem embaralhar e esquecer com tanta facilidade, nossa vida. Estes mesmos riscos de giz ao chão, que num olhar de um desconhecido podem lhe parecer um tanto singelos, são na verdade, muito mais que apenas riscos, são obras de arte, manifestos de vida em uma linguagem universal, a escrita, palavras, são o que são, esses riscos de giz ao chão